MÃE! (MOTHER!, DARREN ARONOFSKY, 2017)


O TEXTO Á SEGUIR CONTÊM MUITOS SPOILERS DEVIDO AO FATO DE SER IMPOSSÍVEL FALAR DESSE FILME DA MANEIRA APROPRIADA SEM SPOILERS. SE VOCÊ AINDA NÃO VIU O FILME, NÃO LEIA OU LEIA POR SUA CONTA E RISCO SABENDO QUE FOI AVISADO:

Mãe! (Mother!), é o tipo de filme que vai dividir as pessoas e está dividindo. Infelizmente estou do lado de quem detestou o filme. Esse é um filme que depende muito da sua experiência particular com ele. Da sua visão do filme. Não é errado gostar do filme e também não é errado detestar o filme. Vai de cada um e não existe um lado com razão quando o assunto é esse filme. Dito isso, muita gente pode estar falando mal de Mãe! (Mother!) por ter achado o filme confuso ou não ter entendido ele, mas eu não sou esse tipo de pessoa, meus motivos pra desgostar do filme são outros. Meus principais problemas com Mãe! (Mother!) vêm do fato de eu sentir que o filme tem claras falhas em pontuar o seu tom, a sua estrutura e a forma de como o filme constrói isso. Eu acho que ele faz de forma bem irresponsável. Pra mim o filme é uma grande alegoria sem substancia nas suas metáforas. Sem querer de jeito nenhum parecer arrogante, eu penso assim porque depois de um bastante ficou bastante obvio pra mim qual era a grande alegoria que o filme estava tentando fazer, eu cheguei á essa conclusão bem rapidamente assistindo o filme, e o fato de ficar tão obvio pra mim o que o filme pretendia me deixou bem aborrecido com ele e fez com que eu perdesse o interesse nele. Mas minha perda de interesse não vem porque eu não gosto de filmes mais ambiciosos, “diferentes” ou nada disso, vêm pelo fato que eu não sinto que as alegorias que estão no filme são tão perspiráveis quanto parecem.

Na minha visão a alegoria principal do filme e mais clara na superfície são as bíblicas que o filme deixa bem claras, claras até demais em minha modesta opinião. Bem, vamos começar: Deus (Javier Bardem), começando criando a natureza (a casa), e depois cria a mãe natureza (Jennifer Lawrence), será que todo mundo conseguiu pegar a referência? Então somos apresentados á Adão (Ed Harris), logo depois de perder uma das suas costelas, e é aí que chega Eva (Michelle Pfeiffer), a intepretação mais “malvada” de Eva que você vai ver na sua vida te garanto. Depois de ficarem um tempo lá com Deus e a mãe natureza eles são expulsos do Jardim do Éden (aqui representado por um quartinho e a casa) e percebem que estão nus (aqui representado por um despertar sexual), mas eles tem dois filhos Caim (Domhnall Gleeson) e Abel (Brian Gleeson), e então o que todo mundo já sabe acontece com um dos irmãos. E então o filme pula para O Novo Testamento, onde a mãe natureza agora é Maria, o que se para pra pensar, não é muito surpreendente. Agora o Deus de Aronofsky começa á espelhar a sua palavra, o que traz seguidores pra eles que interpretam mal a sua palavra criando sacrifícios humanos e guerra. E então nós chegamos até o filho (Jesus) que é sacrificado e comido ao testemunhar o horror do sacramento daquelas pessoas, a Eucaristia. E então Maria causa o Apocalipse e tudo se reinicia porque “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente...” (Eclesiastes 1:9).

Mas pelo caminho Aronofsky ainda nós oferece algumas outras alegorias. Como a alegoria de um casamento (talvez a sua própria experiência com casamentos quem sabe) em que o homem abusa e ignora a sua esposa, com exceção na hora do sexo, porque a sua arte é muito importante e na sua cabeça merece mais atenção que ela.

Depois tem a alegoria ambiental sobre “pessoas estão maltratando o meio ambiente e são tão ruim pra ele” e como o meio ambiente acabará destruindo as pessoas por isso. MUITO PROFUNDO.

E então temos a relação de um artista com seus fãs, o trabalho de um artista é mal interpretado e levado á ultima consequência por fãs radicais.

E essas são só as alegorias que eu consegui pensar ou captar, com certeza existem várias outras indo de pessoa pra pessoa. O que realmente faz com que o filme não funcione pra mim é que eu não sinto que ele consiga se sustentar sem essas alegorias ou que ele tenha algo de muito especial além dessas alegorias. Pra mim Mãe! (Mother) é só a alegoria pela alegoria, e sendo assim tirando isso acaba sendo um filme a meu ver vazio e incompleto, quando não pensamos somente na alegoria e o olhamos pra outros aspectos. Que fique claro, eu gosto muito de filmes que usam de alegorias, Cachê (2005) de Michael Haneke, é um excelente exemplo disso pra mim, pra quem não sabe, Cachê é uma alegoria do descaso do governo francês ao massacre no Rio Sena. Porém ao mesmo tempo em que o filme funciona como uma alegoria ele também consegue funcionar como uma drama familiar crível e ousado sem a parte da alegoria, não é o caso de Mãe! (Mother!) que depende da alegoria em todos os aspectos dele. Eu acho que um filme eficiente funcionaria com a parte alegoria e com a parte em que o publico por exemplo não pegasse a alegoria. Não é o que eu vejo em Mãe! (Mother!). Eu vejo um filme que se segura unicamente nas suas alegorias pra funcionar e se apoia totalmente. E eu particularmente sempre fico desagrado com filmes que apostam somente em um único elemento dele.

Por mais interessante que elas sejam (e eu acho boa parte delas bem obvias e bem na cara pra ser bastante sincero, eu acho que falta sutileza no filme, mas isso é outro problema que eu comentarei á seguir, mas elas são de fato minimamente interessante), eu senti que boa parte das alegorias e metáforas que o filme faz são extremamente obvias. Fico um pouco assustado pela forma como um filme que está sendo chamado de “diferente”, “ousado” e “complexo” por muita gente joga em diálogos extremamente expositivos e autoexplicativos o significo de suas metáforas e alegorias em cenas com diálogos do tipo “ESSA CASA É O PARAÍSO” ou “VOU TRAZER O APOCALIPSE” quase que gritando para publico o que filme quer dizer na verdade. O fato de tudo ser tão obvio nas alegorias bíblicas do filme, além dessa exposição autoexplicativa que é desnecessária e soa fora de lugar, somado ao fato do filme não saber se abraça totalmente a sua loucura e o fator “diferentão” em alguns momentos ou se vai pra um caminho mais obvio, “na cara” e pé no chão ao tratar dos personagens, me desagradam muito.

Sendo honesto, eu gosto bastante do primeiro e segundo ato do filme, os acho bem executados, apesar de uma lentidão no ritmo desses atos, gostei bastante do clima deles e da alegoria mais terrena usada neles sempre deixando claro de forma técnica um tom de suspense e tensão constante naquele ambiente, mas no terceiro ato acho que ele vira um verdadeiro desastre e ele então ele me perdeu completamente. Um dos meus maiores problemas com o terceiro ato é quando ele se torna algo extremamente exagerado por expor o clímax da sua alegoria bíblica que eu percebo na minha visão subjetiva do filme como principal, pra mim o auge desse exagero não funciona porque eu não sinto que ele foi construído antecipadamente pra chegar nesse ponto pra mim pelo menos, apesar de sempre existir no filme no filme. Quando ele acontece, me parece algo caricato e exageradamente fora de tom. Apenas uma loucura exagerada e caricata.

Eu gosto muito de filmes "diferentes" e admiro diretores "diferentes" que fogem do comum, do convencional e são criativos (poderia citar David Lynch, Terrence Malick, Terry Gilliam, Alejandro Jodorowsky, Luis Buñuel, entre vários outros, e até nomes mais polêmicos que costumam dividir mais a opinião das pessoas tipo Lars Von Trier, Alejandro González Iñárritu ou Nicolas Winding Refn, entre vários outros também), mas acho que o fator que eu vou vulgarmente chamar de "diferentão" e essa criatividade tem que funcionar na execução também e isso tem que ser executado com inteligência se não se torna pretensioso ou presunçoso (um exemplo de um filme recente pra mim assim além de Mãe! é o péssimo na minha opinião Animas Noturnos de Tom Ford). E coisas assim me irritam do mesmo jeito que coisas medíocres ou simplesmente comuns me irritam. Eu não senti que Mãe! (Mother!) é um filme muito inteligente ou bem executado. Muito pelo contrário, ele me aprece um filme que joga todas as suas metáforas na cara de quem está assistindo e as esfrega se julgando muito mais inteligente ou eficiente do que é. O que torna ele um filme pretensioso, arrogante e presunçoso. Mesmo tendo citado todos os defeitos e cosias que me desagradaram no filme, devo dizer que apesar de não ter gostado do filme e não achar ele bom, ele tem sim pontos positivos e está longe de ser uma perda de tempo total ou um filme horrível. O desigin de som é muito bom, o clímax do filme é extremamente bem feito resultando uma ótima sequência tecnicamente e o elenco funciona bem sem problemas pra mim, todos estão bem nos seus personagens, com destaque pra Jennifer Lawrence, que está muito bem e entrega uma das melhores atuações da sua carreira sendo um dos maiores destaques positivos do filme pra mim.

Sendo mais direito do que eu deveria, apesar do filme não ter me agradado nada, ele não é uma tortura, não o acho nem de longe melhor do ano ou um dos melhores ou uma obra-prima como muita gente está falando por aí, mas também não é o pior filme de nada, ele tem sim os seus méritos e é uma experiência interessante e que vai funcionar ou não muito por causa da visão particular de cada um e da sua conexão com o filme que é muito subjetiva. Não funcionou pra mim, mas talvez funcione pra você. Por isso vale á pena ser visto pra se tirar as suas próprias conclusões e eu recomendo que todo mundo assista ao filme mesmo não tendo gostado dele e mesmo não tendo achado ele bom. Gostando ou não, Mãe! (Mother!) é uma experiência que todo mundo tem que ter.

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