DETROIT EM REBELIÃO (DETROIT, KATHRYN BIGELOW, 2017)
Relatando um episódio terrível de violência policial
e abuso de autoridade na Detroit de 1967 de policias contra jovens negros e
mulheres explorando o conflito racial e o mais importante à mentalidade racista
e violenta que cerca o sistema, Detroit consegue ao mesmo passar a sua mensagem
de forma exata e ser um filme excelente em todos os aspectos. A diretora
Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal mantêm o seu padrão de qualidade nessa
abordagem quase jornalista deles, de um jeito que eles não forçam a emoção.
Isso não quer dizer que não eles não construíam emoção no filme ou que ela não
esteja lá, mas o filme só deixa que ela venha até você naturalmente. A direção
de Kathryn Bigelow é incrivelmente hábil pela forma como ela sabe construir uma
cena sem precisar recorrer á recursos mais fáceis, momentos em que um
personagem canta por exemplo parecem inteiramente naturais com a narrativa do
filme e com o próprio personagem. Os dois primeiros atos são absolutamente impecáveis
pela forma no que a filmagem visceral de Bigelow resulta. O ultimo ato pra mim
poderia ter se aprofundando mais nas questões que levanta nele como o caminho
que os personagens seguem depois desse episódio terrível e investido em relatar
isso com mais tempo, o que realmente acontece soa mais como um epilogo do que
como um final, mas eu acho que eu digo isso também porque um lado de mim
gostaria de ver mais do filme e que ele não acabasse. O filme é muito inteligente
pela forma que ele tem um olhar muito atento para pequenos atos abusos
corriqueiros em volto á toda aquela violência e de modo algum a violência do
filme passa dos limites ou é gratuita, na verdade a crueza na crueldade dos eventos
retratos só traz a torna o quanto eles foram terríveis, o quanto aquela situação
é terrível, o quanto o que leva aquela situação é terrível e como os responsáveis
por aquilo são pessoas horríveis com distintivos e resultados também da junção
de um sistema nojento em uma cultura toxica. Toda veracidade nas ações desses
homens só torna a mensagem do filme mais poderosa. Em um daqueles clássicos casos
de “esemble cast”, não existe um protagonista e todos os personagens são parte
de um conjunto com muitos destaques. Anthony Mackie com o pouco tempo de tela
que tem é excelente em representar tão bem a mentalidade de um homem que
pretende viver não importando o resto. Ele nunca desperdiça uma única reação do
seu personagem ao mesmo que retrata esse homem falando, tantos sobre os
horrores que ele testemunhou quanto os que ele está testemunhando, tantos nos
seus momentos mais ativos e passivos. Anthony sabe muito bem dar á vida á essa
mentalidade de sobrevivente em volta do seu personagem de um soldado que não
quer morrer de jeito nenhum em uma faixa de guerra muito diferente. Jacob Latimore
e Jason Mitchell são bastante eficazes na criação da intensidade daquela situação,
que é todo o objetivo de toda a sequencia principal do filme. Apesar de alguns
tropeços e de se não serem o chamariz do filme, Hannah Murray e Kaitlyn Dever
conseguem trazer uma certa doçura ao mesmo tempo que balanceiam ele com um tom
de irresponsabilidade juvenil bem, apesar de serem ofuscadas pelos outros
envolvidos em suas cenas. Tanto Ben O'Toole quanto Jack Reynor são bastante bem–sucedidos
no entendimento do tipo particular de brutalidade de cada um dos seus
personagens, chegando á me lembrar dos seguidores do personagem de Sean Penn no
excelente Pecados de Guerra de Brian de Palma. Temos Ben retratando um sadismo
que ele não deixa mostrar de maneira direta que existe nele, o tipo de sadismo
do homem extremamente ansioso e submisso em seguir os ensinamentos de um líder maligno,
enquanto Jack retrata a forma mais horrível de estupidez de um simples pau–mandando
sem celebro, uma ovelha que tenta ser um lobo que quase não consegue reconhecer
o horror que ele inflige aos outros de maneira tão terrível. Mas os maiores destaques do filme são três outros
atores: Algee Smith, John Boyega e Will Poulter. A atuação de Algee Smith me lembra
de um pouco o trabalho de Victor Banerjee em Passagem para a índia de David
Lean. Pelo jeito que os dois atores criam abordagens exatas desses dois homens
que estão apenas vivendo as suas paixões silenciosas e guardando elas para si
mesmos, e pessoas incapazes de fazer mal á alguém com isso ou no geral. Algee
traz uma honestidade perfeita para compor a inocência do papel, e os momentos
em que ele canta realmente parecem incrivelmente bons no começo, retratando
todo o espirito e a natureza desse homem. Isso torna as cenas seguintes com o
seu personagem ainda mais dolorosas e comoventes porque ele mostra de maneira
tão eficaz esse mesmo homem só que agora com o seu espirito totalmente quebrado
e perdido pela vida, toda a sua inocência foi completamente agora ao ponto em
que ele nem mesmo canta da mesma maneira. Já John Boyega também está ótimo, ele
é uma figura tão encantadora e simpática o segurança que quer apenas fazer o
seu trabalho da melhor forma possível e faz o seu melhor para manter a paz
entre os policiais e os civis, porém ele consegue retratar muito bem o seu
desconforto pela imagem que ele passa para a comunidade negra e o fato que ele
nunca ser um “igual” para os policiais. Ele retrata muito bem as suas reações
mais tímidas, contribuindo tanto para o verniz mais emocional do filme
mostrando a maneira diferente que o seu personagem enfrenta esse horror e se
torna uma vitima. Porém o grande destaque e quem rouba a cena é o excelente
Will Poulter dando uma atuação incrível. Ele interpreta esse lixo humano
racista de merda sem nenhuma consciência com perfeição, sem nunca desculpar as
suas ações. No entanto ele sempre deixar claro o quanto o seu personagem é
humano e infelizmente horrivelmente crível e real, por mais odioso que ele seja
e é, e o seu senso distorcido na fé de um sistema de justiça que ele se insere
maleficamente e leve ao pé da letra da forma mais horrível possível. Ele
comanda toda a sequencia principal do filme maravilhosamente bem assim como Angee
e Bigelow, e quanto mais eu penso sobre essa atuação mais eu amo ela e amo o
que ele fez para compor esse homem odioso e patético. Falando no geral eu
cheguei á conclusão que Detroit é um filme profundamente poderoso e garanto que
você não irá se esquecer dele tão cedo depois de assisti-lo.
NOTA: 10
Comentários
Postar um comentário