"PROFISSÃO: LADRÃO" ("THIEF", 1981, MICHAEL MANN) ENTRE O COMEÇO E A MATURIDADE
Quando fez “Profissão: Ladrão”, Michael Mann nunca
havia feito um longa–metragem para o cinema, mas já tinha uma carreira
estabelecida em entender e já tinha entendido toda a ferramenta audiovisual em
todas as etapas que um maestro precisa se atentar, e por isso já demonstra
nesse filme um domínio e uma concisão como cineasta de um diretor que parece
ter vários filmes na carreira e também como todo artista inteligente percebe
que cada meio pede uma abordagem diferente e justamente por isso leva a
experiência técnica e profissional que ele ganhou na televisão como meio para
exercer elementos que são puramente cinematográficos e expor seus ensaios e
obsessões artísticas.
Mas agora falaremos de “Profissão: Ladrão”, o primeiro filho cinematográfico de Michael Mann. Um filme que mescla a paixão de um artista que está descobrindo o cinema e de um artista já forjado no ato de contar histórias pela sua câmera e pelas palavras que saem das bocas de seus atores. O conceito do homem loucamente movido por um trabalho que é a única coisa que ele entende no seu cotidiano ao mesmo tempo que é destruído por isso, voltaria em quase todos os outros filmes de Mann. Não é exagero dizer que o Frank do James Cann daqui, o Neil do De Niro em “Fogo Contra Fogo”, o Vincent do Tom Cruise em “Colateral” e John Dillinger do Johnny Depp em “Inimigos Públicos” compõe diferentes facetas de um mesmo conceito. Ao mesmo tempo que o trabalho enquanto um único companheiro e uma maldição também marcam tanto a vida dos protagonistas de “Ali”, “Manhunter”, "Miami Vice", "Blackhat" e de “O Informante”. Esse embate entre uma violência inerente daquelas suas figuras e dos seus mundos com momentos de pura poesia, sensibilidade e fragilidade que surpreendem por essa contradição humana, a mulher que surge como uma libertação, os códigos próprios de honra, de conduta e tudo isso estão aqui já como uma raiz do que ele vai continuar plantando mais tarde. Quando o James Cann explode numa confissão do fundo do peito para a personagem da Tuesday Weld – que em pouco se diferente do que o Mann faria nas confissões do Tom Cruise e o Jammie Foxx em “Colateral” e o tão já comentando mil vezes primeiro encontro do De Niro com o Al Pacino em “Fogo Contra Fogo” – ele não diz o que precisamos saber sobre ele porque isso já dito em ações e sequências onde os seus atos e as ações do filme falam por si.
Nessa cena ele explode emoções internas que levam a um entendimento entre ele e a sua nova paixão. O personagem de Cann se locomove por espaços abertos onde aquela selva urbana mistura um certo tom de realismo cru daquelas relações e um senso estético da direção de fotografia usando as luzes e a cor com um trabalho de cor para criar uma Chicago de fantasia ou de terror – como no momento em que o personagem de um assustador Robert Prosky revela quem realmente é tomando conta da tela visualizado como um monstro quando a câmera fica de ponto pra baixo tal qual a vida do protagonista – em meio ao real. James Cann observa tudo ao seu redor em todas as cenas, nunca está segura, anda lentamente, vai do doce ao violento em questão de seguros, é mais um inadequado que só parece entender o ciclo de violência que convive ou então a humanidade que ele encontra dentro de um desejo amoroso, o que Caan compõe de maneira genial nos seus momentos de vulneráveis e de pavor. É outra selvagem urbana que depois Michael Man investigaria um outro homem que busca a autonomia e os caminhos próprios para os seus anseios pessoais e profissionais dentro de uma estrutura mesquinha e perigosa dos que estão no topo da pirâmide de trabalho e daqueles que querem lucrar com o seu suor. E os homens de Mann continuam dando círculos sem fim dentro dela. Escapando ou não. Desaparecendo no meio do nada.
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