OKJA (BONG JOON–HO, 2017)
Okja é
mais um filme com o estilo de distinto do diretor Bong Joon-ho (se você já viu Expresso
do Amanhã, O Hospedeiro, Mother e Memorias de um Assassino, você sabe do que eu
estou falando e se ainda não viu, por favor, assista todos esses filmes), ele
mais uma vez em um filme seu combina brilhantemente humor, sátira, os horrores
da humanidade, critica social, justamente com uma emoção genuína na hora de
acompanhar a história de uma menina e o seu grande animal. O filme é muito
divertido e engraçado quando ele tem que ser engraçado e quando ele quer ser
engraçado, com exceção nas cenas envolvendo um ator que está horrível e no pior
papel da sua carreira, mas vou falar disso quando chegar a hora das atuações. Apesar
disso o filme te oferece uma conexão justa com o centro da historia, ao mesmo tempo
em que ele é capaz de ser extremamente engraçado, ele é capaz de provocar
momentos de extrema tristeza com grandes toques de choque, revolta, raiva e
extremo desconforto ao contar à história que ele quer e mostrar imagens e cenas
que ajudam á comprovar todo o ponto do filme, todas essas mudanças de tom que
vão da comedia extrema para o drama extremo são maravilhosamente feitas, isso
fica muito claro quando até uma criatura que é obviamente um CGI é tão bem construída
pelo filme que você sente uma vida nela. Como eu já disse e como é comum no
cinema de Bong, o filme traz consigo uma critica social, ele traz uma mensagem importância
contra a indústria alimentícia, o tratamento horrível que os animais recebem, os
seus efeitos maléficos e os efeitos maléficos do capitalismo em geral, o filme
faz a sua critica social de maneira exata e acertadíssima sem soar panfletário
em momento nenhum, e até mesmo consegue subverter um pouco isso, mostrando que
até os “mocinhos” estão longe de ser santos, e sim sendo mostrados como boas
pessoas com ideias certos, mas que por serem humanos tem falhas como qualquer
pessoa. A trilha sonora e o elenco do filme também estão em plena forma. Com
uma única exceção, que pra mim é o grande defeito do filme. Jake Gyllenhaal
está péssimo e provavelmente dando a pior interpretação da sua carreira. Ele já
provou em filmes como O Abutre, por exemplo, e outros filmes que compor vários
tipos de personagens e dar excelentes intepretações (especialmente em O
Abutre), mas nesse filme toda a intenção dele de se constrói um personagem
estranho e exagerado é feita da pior maneira possível. É até triste ver como
Tilda Swinton constrói uma personagem estranha e como Gyllenhaal faz isso. A intepretação
de Gyllenhaal apenas ajuda a mostrar o quanto ela é boa e o quanto ele é ruim.
Ele tenta compor um tipo absurdo e exagerado parecido com ela, mas falha
miseravelmente. Eu acho que ele estava tentando compor o apresentador de
programa infantil, que poderia ter funcionado para o papel, mas ele vai direto
para a direção errada. Ele está no extremo o tempo todo, sempre exagerado, no
entanto o seu exagero é horrivelmente desagradável e não parece estar no
caminho certo. Ele incomoda em cada cena em que aparece, e a parte ruim é como
a atuação, por exemplo, como a de Richard Dawson no filme O Sobrevivente (The
Running Man, 1987), poderia ter feito desse personagem um dos pontos altos do
filme e não o baixo. Por outro
lado, o resto do elenco funciona muito bem, com dois claros destaques em minha
opinião. Seo-Hyun Ahn como a protagonista absoluta do filme oferece uma atuação
que é corretamente centrada e é fundamental para que você acredite na vida da
criatura que leva o titulo do filme. Ahn faz isso com maestria em todas as
cenas que ela tem interações com Okja, e os momentos que são lindos e
carinhosos com o seu animal no começo do filme se tornam angustiantes mais tardes
e finalmente até comoventes. A interpretação de Ahn funciona como um reflexo de
uma humanidade que é puramente boa em essência em contraste com todo o resto do
filme e toda a estranheza em torno dela seja os exploradores ou os defensores
de animais. Steven Yeun, Yoon Je-moon e Giancarlo Esposito também estão muito
bem em seus respectivos papeis. Lily Collins, Daniel Henshall e Byun Hee-bong
também completam o resto do elenco de forma eficiente, Devon Bostick não
oferece um grande impacto pro filme, mas também não o atrapalha. Contundo os
grandes destaques do elenco pra mim são com certeza as atuações de Tilda
Swinton e Paul Dano, que estão fantásticos em seus papeis. Tilda está
maravilhosa desde o inicio já mostrando na sua cena de abertura em ela grita
como uma garota de colégio anunciado super porcos completamente excitada e
animada eu já sabia do que se tratava essa atuação e como ele seria daqui pra
frente, é claro que Bong, assim como os Irmãos Coen em Ave, César (Hail Caesar),
aparentemente acha que apenas Tilda Swinton consegue interpretar a sua própria
irmã gêmea e ele está certo. De qualquer forma, assim que nós vimos à primeira
irmã vemos que Tilda Swinton é incrível sendo essa mente corporativa
excessivamente feliz e magnética, que só demonstra algum sentimento diferente
disso quando ela ocasionalmente menciona a sua irmã em que podemos ver um pouco
da sua amargura. Então, quando as portas fechadas, em sua vida privada
finalmente percebemos que tudo que vimos de Lucy anteriormente é apenas uma
casca para esconder alguém cheia de pura amargura, arrogância e desespero facilmente
manipulável sendo consumida pelas suas próprias inseguranças e traumas enquanto
tenta lidar com todo o poder que ela tem em mãos. Swinton revela que Lucy é uma
completa bagunça e ela retrata essa bagunça lindamente, fazendo uma atuação
extremamente divertida ao mostrar o quão grotesca é a sua personagem dentro e
fora do palco. Embora seja rápido, ela tem um impacto impressionante em tela
quando a outra irmã Nancy aparece agora retrata por Swinton com uma crueldade
tão incisiva pelo jeito que ela interpreta essa mulher como essa maquina horrível
que só visa o caminho mais eficiente custe o que custar. São duas ótimas
atuações pelo preço de uma. E Paul Dano também está ótimo dando uma das suas
melhores atuações, talvez a melhor até, em um papel coadjuvante como um líder ativista
completamente apaixonado e dedicado á sua causa e aos seus ideias capaz de tudo
por eles e pra destruir o que ele combate, absolutamente tudo. Sua atuação é
comovente ao mostrar todos os horrores que esse homem vê e testemunha tentando cumprir
a sua missão e por um ideal muito maior. E também o quanto esses horrores o
afetam. Eu achei esse filme maravilhoso, ele consegue quebrar qualquer barreira
de linguagem, sejam barreiras de gêneros ou de qualquer outra espécie. Honestamente
esse filme poderia se encaixar perfeitamente como um filme familiar dos anos
80, já que ele tem um estilo que é basicamente o estilo de um conto de fadas,
só que um conto de fadas de raiz ao estilo dos Irmãos GRIMM sem esconder tudo
que é sombrio que está em volta dele e todas as mensagens que ele carrega. Posso
dizer sem medo que Okja até o momento é o meu filme favorito de 2017 e confirma
Bong Joon-ho como um dos melhores cineastas da atualidade.
NOTA: 10
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