“STAR WARS: A ASCENÇÃO SKYWALKER “(“STAR WARS: THE RISE OF SKYWALKER”, J.J. ABRAMS, 2019): O MEIO DO CAMINHO

A nova trilogia de Star Wars que se encerra nesse filme teve início com “O Despertar da Força” (“The Force Awakens”), também dirigido por J.J. Abrams, um filme programado milimetricamente para entregar aos fãs num retorno triunfal a saga que eles não viam a anos no cinema. Por mais que o filme erre por uma falta de identidade e por se aproveitar demais de elementos passados da franquia a exaustão, Abrams conseguiu oferecer um entretenimento divertido e emocionante que apresentou muito bem um grupo de personagens bem cativantes e interessante – a Rey de Daisy Ridley, o Finn de John Boyega, o Poe Dameron de Oscar Isaac e até um vilão bem construído em Kylo Rey/Ben Solo de Adam Driver, boy lixo especial assassino do pai e stalker maluco. Mesmo que exageradamente O Despertar da Força era o filme certo no momento certo. Um filme que tinha sentido em ser nostálgico, celebrar o antigo e entregar o bastão para o novo ser desenvolvido numa reapresentação depois de anos.
E aí tivemos “Os Últimos Jedi” (“The Last Jedi”). Aí algo se dividiu. Odiando ou amando, vendo defeitos ou não, Rian Johnson, diretor e roteirista do filme, trouxe algo de pessoal pra franquia. Trouxe a sua identidade, o seu jeito, as suas ideias, o seu espirito, uma alma particular pro filme, coisas e caminhos ousados que diferenciam esse filme de outros Star Wars. Pode não ser perfeito? Claro que pode. A execução pode ter sido torta de algumas coisas? Claro. Mas o que ele teve de bom foi bem exímio e marcante graças a essa ousadia dele em trazer um jeitinho próprio pro filme. O problema é que isso desagradou muitos. E tudo bem desagradar. Eu mesmo não acho “The Last Jedi” perfeito, jamais, por mais que goste no geral mais por achar o filme louvável e destro em suas qualidades do que perfeitamente executado e por outro lado tudo bem não gostar, o problema é que ele desagradou tanto um grupo especifico de pessoas porque fugiu do comum e porque cutucou uma camada extremamente toxica e violenta de um fandom no mínimo confuso.
E aí tivemos “Os Últimos Jedi” (“The Last Jedi”). Aí algo se dividiu. Odiando ou amando, vendo defeitos ou não, Rian Johnson, diretor e roteirista do filme, trouxe algo de pessoal pra franquia. Trouxe a sua identidade, o seu jeito, as suas ideias, o seu espirito, uma alma particular pro filme, coisas e caminhos ousados que diferenciam esse filme de outros Star Wars. Pode não ser perfeito? Claro que pode. A execução pode ter sido torta de algumas coisas? Claro. Mas o que ele teve de bom foi bem exímio e marcante graças a essa ousadia dele em trazer um jeitinho próprio pro filme. O problema é que isso desagradou muitos. E tudo bem desagradar. Eu mesmo não acho “The Last Jedi” perfeito, jamais, por mais que goste no geral mais por achar o filme louvável e destro em suas qualidades do que perfeitamente executado e por outro lado tudo bem não gostar, o problema é que ele desagradou tanto um grupo especifico de pessoas porque fugiu do comum e porque cutucou uma camada extremamente toxica e violenta de um fandom no mínimo confuso.
A polêmica do filme
anterior parece ter feito a Disney, a produtora Kathleen Kennedy,
o diretor e roteirista J.J. Abrams e o co–roteirista Chris Terrio
criarem como resposta um filme totalmente de comitê. Um filme protocolar para
agradar especificamente o nerd que ficou desagradado no filme anterior,
entregar o que os fãs querem e não desagradar ninguém. Porém isso causou um
efeito inverso que fez esse novo cair no caminho do meio. E aí temos um
problema. Ninguém espera uma narrativa revolucionária vinda de uma obra como
Star Wars o problema é que sendo um blockbuster ou sendo qualquer outro tipo de
cinema esperamos que abrace uma visão específica, a execute tenha e que tenha
alma. Que seja sincero. E é esse o problema de Os Últimos Jedi. Não que ele
seja ruim, não é, mas ele não tem nada de seu. Não tem uma identidade própria
ficando claro que ele não passa de um produto protocolar pensado por um estúdio
e executado por um empregado.
Não que precisemos de uma
obrigação de autoria em todo filme mas é necessário que um filme para se
destacar tenha algo de seu que pareça verdadeiro porém o que acontece em “A Ascensão Skywalker” é que ele não tem nada de seu e nada se
destaca. Tudo é extremamente previsível, esperado, todas as viradas de roteiro
e o filme se apoia em conceitos já usados e que são derivados de filmes
anteriores da saga pra construir a sua narrativa. O que deixa a sua trama sem
nenhuma vida. Abrams é um diretor de estúdio e de blockbuster competente mesmo
que pouco imaginativo, mas aqui ele parece se prestar ao total papel de um
empregado de estúdio de uma linha de produção. O visual do filme é bonito, as
cenas de ação em sua maioria são bem feitas, mas elas não empolgam, a condução
de Abrams acaba sendo genérica, sem grandes sacadas visuais, se apoiando em
recursos narrativos forçados em busca de nostalgia e indo pra um terceiro ato
onde sua direção cai na breguice em um clímax mal filmado e monótono. Falta
paixão que tire o filme do genérico.

Outro detalhe que
atrapalha a narrativa do filme é que as temáticas do filme anterior faz com que
o terceiro episódio dessa trilogia ao se entregar completamente a lógica de
obrigatoriedade familiar Skywalker como “os especiais”. A ideia de acolhimento
familiar é muito bonita, mas parece lá pra prestar uma obrigação. Da mesma
forma que voltar para o plot familiar de Rey rende uma verdadeira novela
mexicana onde parece que usaram teorias sem sentido do Reddit para construir o
roteiro de um filme. Tudo parece extremamente artificial, sem alma e programado
quando entramos na trama principal do filme (que se foca em Rey, Kylo e Palpatine).
E aí que entramos num dos
maiores problemas de “A Ascensão Skywalker” é o tempo que o filme perde
respondendo “Os Últimos Jedi”, dando alfinetadas no filme anterior e contradizendo
coisas que o filme falou apenas pra agradar os mais críticos do filme anterior
ao invés de simplesmente usar esse tempo pra fazer um filme próprio, sem se
preocupar tanto em responder e desmerecer o filme anterior. A aparição de Mark
Hamill como Luke Skywalker parece estar no filme só para responder
críticas feitas ao personagem ao filme anterior em diálogos expositivos pra
deixar muito marcado essa sensação e pra investir em fanservice e nostalgia,
fatores vitais desse filme. Da mesma forma Kelly Marie Tran e a sua Rose
Tico sofrem imensamente numa jogada vergonhosa do filme em transformar a
personagem que havia sido estabelecida no filme anterior como uma das
personagens centrais da narrativa em uma quase figurante pelas críticas que Rose
sofreu. Além de ser uma demonstração clara da preguiça do roteiro que preferiu
rejeitar e abandonar uma personagem ao invés de desenvolver ela só por causa
das críticas negativas e ataques, é uma demonstração covarde e até canalha de você
sem querer ou não dizer que a Rose e a própria Kelly são culpadas dos ataques misóginos,
preconceituosos e xenofóbicos e por isso devem ser responsabilizadas por isso:
ou seja “nem são dignas de terem um papel grande no filme”. É vergonhoso em
todos os sentidos e só reforça o fato da trilogia não se conversar em si.
O retorno do Imperador
Palpatine como grande vilão acaba sendo tão jogado e mal construído que parece
meio patético, ele simplesmente volta do nada sem um desenvolvimento prévio ou
alguma pista da sua volta oferecendo diálogos expositivos para explicar o seu
retorno além das já citadas revelações bregas e sem sentido e ainda acaba usando
suas falas pra explicar lacunas do filme anterior, além do que retornar de
forma truncada e artificial o grande vilão das trilogias anteriores dá uma
sensação do filme que está andando pra trás se aproveitando de um efeito
derivado ao invés de desenvolver um grande vilão de forma própria e criativa
caindo no mesmo mal do efeito barato da nostalgia. O fanservice também atinge a
relação entre Rey e Kylo onde ao invés de um desenvolvimento de
personagem/relacionamento de ambos temos só momentos constrangedores onde um
personagem que matou o próprio pai tem uma redenção do nada sem nenhum
desenvolvimento (a aparição de Han Solo é incrivelmente brega e nada
convincente) e onde uma relação abusiva entre os dois acaba sendo romantizada
numa cena constrangedora feita para atingir os gritos da plateia mas só
causando vergonha.
Ele não desenvolve os
seus protagonistas, usa e abusa da
nostalgia tanto que faz os personagens ficarem presos nisso (a inserção de Poe
como um contrabandista mesmo rendendo uma das partes mais engraçadas do filme
acaba sendo só uma forma de aproximar de Han Solo por um puro desejo nostálgico e ainda transforma o personagem latino num esteriótipo de latino malandro que abandonou a namoradinha),
cria coisas que já pareciam superadas e as deixa sem conclusão (como a paixonite de Finn por Rey
inserida de forma desajeitada ou então um novo robô que surge sem motivo só pra vender boneco) e é aí que temos uma das maiores covardias do
filme (e oh que esse filme é covarde): já que ele se recusar em desenvolver uma relação romântica entre Finn e
Poe o capítulo final da trilogia faz questão de ressaltar a todo instante que
eles são “só amigos” criando duas personagens femininas interpretadas por Keri
Rusell e Naomi Ackie apenas pra serem apenas pares amorosos deles
desperdiçando duas atrizes (inclusive uma atriz incrível como Keri Rusell) e
personagens com potencial (uma delas uma mulher negra que serve só como interesse
pro personagem masculino assim como a de Keri). E o filme ainda afunda na
covardia escolhendo essa lógica heteronormativa deixando ainda mais clara a sua
representatividade falsa e corporativista colocando duas figurantes como um
casal LGBT só pra dar uma migalha enquanto não desenvolve isso e impede que os
dois personagens principais sejam. O recado é claro: “representatividade
importa, mas não muito”. Talvez o fanservice que salve do filme sejam as divertidas
aparições de Lando Calrissian (Billy Dee Williams) que funcionam bem,
são pontuais, são uteis pra narrativa e inserem bem o personagem dentro daquele
universo e se relacionando com o trio e quem está em volta deles.
As partes com a Leia
(Carrie Fisher) são emocionantes por motivos óbvios e rendem uma
homenagem eficaz, mas até um momento dramático de extrema importância emocional
envolvendo ela foi arruinado pra mim porque o filme ao mesmo tempo que cria
esse momento tem a decisão de inserir isso ao lado de uma outra cena
completamente desnecessária e fanservice que tira a força de um momento que
teria tudo pra ser emocionante e acaba ficando marcado negativamente.
Mas é só de erros que
vive “A Ascensão Skywalker”? Não. O problema é que os defeitos acabam sendo mais
fortes que qualquer coisa que esse filme tenha de bom porém existem qualidades sim. A típica beleza visual e a
destreza dos efeitos é algo de se esperar obrigatoriamente de uma produção
desse tamanho, do mesmo jeito que a sempre competente trilha de John Williams entende
como ninguém esse universo. Porém onde o filme finalmente consegue andar solto
das armadilhas de ser um projeto protocolar é quando ele abraça o seu clima de
diversão. Que é muito bem-sucedido. O humor é muito bem dosado, C–3PO se torna
uma figura levemente tragicômica que rende momentos engraçados e até
emocionantes e acompanhar as aventuras do trio Rey, Finn e Poe Dameron acaba
sendo muito interessante pela divertida criação da dinâmica entre eles e a
forte química dos atores em suas aventuras.
Porém isso é muito pouco
para oferecer uma boa conclusão e um bom filme. Longe de ser um crime a humanidade,
“A Ascenção Skywalker” diverti, mas é muito falho e pueril. Uma dessas provas
que uma obra de arte não deve se curvar as vontades de fãs ou do estúdio ao
ponto de perder algo que faça dela especial. Por isso o capítulo final dessa
trilogia deixa um gosto de indiferença de algo com erros e acertos mas que
acaba preso em obrigatoriedades equivocadas que o colocam no caminho do meio.
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