OS MEUS 30 FILMES FAVORITOS DE 2020

Lista e texto de Diego Quaglia.

Capa de Cid Souza.

2020 provavelmente foi um dos anos que eu mais vi filmes. Talvez o que eu mais vi. Não sei dizer isso com certeza e provavelmente nem gostaria de saber dizer.

O que eu tenho certeza é que sem a chance de ver nenhum filme no cinema desde o começo da pandemia e continuando assim desde então, os filmes que eu vi nesses momentos em casa e muitas das experiências que tive com eles estão entre as coisas que tornaram esse ano mais suportável mesmo com tudo de terrível que ele proporcionou para a vida de todos nós.

2020 também foi definitivamente o ano que eu mais acompanhei festivais – os online – e escrevi sobre filmes tanto no Letterboxd quanto em outros lugares como aqui no blog mesmo ainda sendo menos do que eu gostaria. Por isso para fazer essa lista decidi considerar os filmes lançados em festivais, os filmes lançados em streaming, digitalmente e os filmes pelas suas estreias originais. Até acho que isso é bom porque quando alguns desses filmes aparecem disponíveis onde que quer que seja é a chance de colocar eles no radar e ir atrás quem não viu ainda. E tem muita coisa que me encantou esse ano que vale á pena conhecer.

Antes da lista dos 30 favoritos por ordem de preferência – também escrevi ou adicionei comentários de algumas palavras minhas sobre o TOP 20 – propriamente nesse texto gostaria de salientar alguns destaques de interpretações e cenas que me impressionaram nesse ano.

As atuações do ano que mais me impressionaram, encantaram e mexeram comigo:

Atriz favorita: Sidney Flanigan em “Nunca, Raramente, Ás Vezes, Sempre.

Ator favorito: Willem Dafoe em “Siberia” (quase que eu faço um empate com o Delroy Lindo em “Destacamento Blood”).

Coadjuvante feminina favorita: Talia Ryder emNunca, Raramente, Ás Vezes, Sempre”.

Coadjuvante masculino favorito: Julio Adrião em “Sertânia”.

Dez cenas do ano que mais me impressionaram, encantaram e mexeram comigo:

Jornada na terra dos mortos em “Sertânia”.

O encontro acontece em “Dias”.

O gato em “The Woman Who Ran”.

O protesto e as suas consequências em “Cabeça de Nego”.

O reencontro em “First Cow”.

O processo/as pilastras em “Nunca, Raramente, Ás Vezes, Sempre”.

Norman perdoa Paul em “Destacamento Blood”.

“Runaway” em "Siberia".

Os encerramentos de “City Hall” e "A Metamorfose dos Pássaros" (empate).

Os “pequenos momentos” de Joe/seu reencontro com 22 e “Soul” e o incêndio em "Minari" (empate).

É isso. Fiquem seguros. Feliz Ano Novo e muitos filmes pra vocês.

30. "O Rei de Staten Island" (Judd Apatown)

29. "Meu Nome É Bagdá" (Caru Alves de Souza)

28. "Até o Fim" (Ary Rosa e Glenda Nicácio)

27. "Tesla" (Michael Almereyda)

26. "O Despertar de Fanny Lyne" (Thomas Clay)
25. "Noite de Seresta" (Sávio Fernandes e Muniz Filho)
24. "O Colírio do Corman me Deixou Doido Demais" (Ivan Cardoso)

23. "Mosquito" (João Nuno Pinto)

22. República (Grace Passô)
21. "Malmkrog" (Cristi Puiu)

20. "Let Him Go" (Thomas Bezucha)

Sempre surpreende em todos os aspectos. Em como organiza o estudo de gênero, o ambiente, os atores e os conflitos familiares que tem em mãos. O confronto final (extremamente forte e triste) por pouco não entrou nas minhas sequências favoritas do ano.

19. "Não Haverá Mais Noite" (Eléonore Weber, 2020)

Dá uma sessão dupla assustadora com o "Guerra Sem Cortes" do De Palma. O que uma guerra destrói não precisa de figuras muitas vezes. Só precisa de imagens e som.

18. "A Morte Branca do Feiticeiro Negro" (Rodrigo Ribeiro)

A dimensão histórica do genocídio preto em imagem e som.

17. "Soul" (Peter Docter)

Só nos resta continar.

16. "On the Rocks" (Sofia Coppola)

O que pode surgir de qualquer encontro entre um pai e uma filha. Até um tão fora do normal. Um encontro desses nunca é “só um encontro”.

15. "É Rocha e Rio, Negro Leo" (Paula Gaitán)

Fala, Negro Leo. Fala mesmo. Fala bastante que é bom demais ouvir.

14. "Siberia" (Abel Ferrara)

“É impossível viver sem um proposito”.

O peso do passado acaba vindo com solidão. Vem do exílio. Willem Dafoe gênio.

13. "Babenco, Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" (Bárbara Paz)

“Os argentinos acham que eu sou brasileiro e os brasileiros acham que eu sou argentino... Então está foda”.

12. "Minari" (Lee Isaac Chung)

Um filme que rejeita o choque de culturas e aposta na convergência delas.

11. "O Sal das Lágrimas" (Phillipe Garrel)

A juventude. Frescor e negatividade. Preto e branco. O seu peso, de onde veio e o seu caminho.

10. "Cabeça de Nêgo" (Déo Cardoso)

"Sorrisos e lágrimas" do jovem que não sai mais.

09. "Destacamento Blood" (Spike Lee)

Spike Lee entende de filmar a história como poucos. Seu cinema conta, desconstrói, reconstrói, subverte e espelha o passado norte–americano e o passado do povo preto norte–americano com a atualidade ao mesmo tempo com tesão, paixão, sarro e contradição. Essas histórias e imagens “oficiais”, “não oficiais” e “reais” se misturam dentro do imaginário e do imagético norte–americano e é isso que Lee percorre. Aqui ele exercita tudo isso num manifesto onde todos os elementos explodem a cada momento. Um manifesto sobre o "the horror, the horror" que machucou pra sempre a alma dos seus personagens centrais e uma nação. Tantas explosões sem limites dão vida a um filme imperfeito mas que é forte e delicioso em cada uma das suas imperfeições. E quando um fantástico Delroy Lindo (que merecia reconhecimento desde da sua atuação genial em "Clockers", outra colaboração com Lee) está em cena o casamento entre essas explosões se tornam ainda mais complexos. Adeus, Chadwick. Nada será esquecido. Black Lives Matter.

08. "Undine" (Christian Petzold)

O ato de fabular nos mais improváveis espaços.

07. "First Cow" (Kelly Reichardt)

Kelly Reichardt e seus animais maravilhosos. Kelly Reichardt e os seus laços de afeto que nunca se rompem. Compartilha os temas e as abordagens de John Steinbeck e John Ford, mas com a mão intimista, seca e muito humanismo que só Reichardt poderia capturar em suas ambientes e imagens que falam por si só. A contemplação no seu cinema é a afirmação da humanidade diante do mundo que vivemos. Por acreditar na profundida da beleza nos ambientes ao céu aberto, acreditar nos seus animais, do mesmo jeito que acredita no laço de afetividade surgido entre a revelação incomum de amizades surgidas e exploradas com doçura, suavidade e carinho de onde menos se poderia esperar como um tipo de caminho para algo “novo”.

06. "The Woman Who Ran" (Hong Sang-soo)

“Você gosta de se encontrar com pessoas?”.

A precisão do refúgio. Assim como vários filmes dessa lista ele é mágico em entender visualmente e narrativamente os elos que se formam em reuniões nos guiando pela maravilhosa Kim Min–hee e absorvendo uma espécie de solidão, sombras e vazios que não são preenchidos nem com a companhia do outro.

05. "Dias" (Tsai Ming-Liang)

Encontros frios num mundo quente ou encontros quentes num mundo frio?

04. "Nunca, Raramente, Ás Vezes, Sempre" (Eliza Hittman)

A intimidade da dor. Excepcional trabalho da Eliza Hittman em trazer à tona a juventude de uma cidade num mundo de presas e predadores. Num mundo de abusos dos mais diversos, de escolhas e de sobrevivência. Não de julgamentos. Doloroso mas muito caloroso.

03. "City Hall" (Frederick Wiseman)
A cidade não pode parar.

02. "A Metamorfose dos Pássaros" (Catarina Vasconcelos)

“As árvores sempre existiram?”.

“Há árvores que viram o pai e a mãe nascerem, e há árvores que viram os pais de nossos pais nascerem, e há árvores que viram os pais dos pais de nossos pais nascerem”.

“E nós temos muito tempo como as árvores?”.

“Acho que não”.

01. "Sertânia" (Geraldo Sarno)

“A originalidade consiste em voltar à origem”. – Antonio Gaudí

Os incêndios brasileiros formam uma grande explosão. Uma explosão de um Sertão. De uma força. De um cinema. De um Brasil. Gigante em todos os sentidos. O filme de 2020 que mais me fascinou, me emocionou, me hipnotizou, o filme que eu mais respeitei e até o filme que eu mais me diverti. O filme que se eu tivesse visto em uma sessão em um cinema eu aplaudiria de pé. O filme mais completo.

Comentários

Postagens mais visitadas