FILMES FAVORITOS DE 2021
Lista e textos de Diego Quaglia.
Capa de Deivid Ruan da Purificação.
Grandes filmes não faltaram em 2021. Tivemos grandes autores retornando com grandes filmes, novas promessas surgindo, novos nomes se consolidando e belas surpresas. O ano está num limbo estranho que ainda viveremos entre o isolamento da pandemia e a volta aos cinemas (a minha foi em uma sessão de “Bergman Island” na Mostra de Cinema de São Paulo), limbo esse que me fez continuar vendo diversos desses filmes em casa ao mesmo tempo que tive a oportunidade de conferir alguns deles no cinema do final do ano para cá. Enfim mais uma vez – felizmente ou para a minha vergonha – a quantidade de filmes que eu vi cresceu e eu me joguei no cinema nesses tempos e na ative de cobri–lo. E isso junto com as felicidades que tiramos da vida fez que o meu 2021 tivesse grandes momentos e grandes coisas apesar dos seus fatores terríveis que eu nem preciso mencionar quais são. Eis aqui então os meus favoritos de 2021:
As atuações do ano que mais me impressionaram, encantaram e mexeram comigo:
Atrizes favoritas:
1. Tilda Swinton, Memória
2. Virginie Efira, Benedetta
3. Penélope Cruz, Mães Paralelas
4. Léa Seydoux, France
5. Alana Haim, Licorice Pizza
7. "Renate Reinsve", "A Pior Pessoa do Mundo"
8. Kristen Wiig, "Duas Tias Loucas"
9. Vicky Krieps, Tempo/Begman Island
10. Kristen Stewart, Spencer
Atores favoritos:
1. Simon Rex, Red Rocket
2. Clint Eastwood, Cry Macho: O Caminho para
Redenção
3. Oscar Issac, The Card Counter
4. Hidetoshi Nishijima, Drive My Car
5. Adam Driver, Annette
6. Ethan Hawke, Zeros and Ones
7. Avshalom Pollack, Ahed`s Knee
8. Eric Nantchouang, À L'abordage
Atrizes coadjuvantes favoritas:
1. Charlotte Rampling, Benedetta
2. Kotone Furukawa, Roda do Destino
3. Katsuki Mori, Roda do Destino
4. Tōko Miura, Drive My Car
9. Fusako Urabe, Roda do Destino
10. Rita Moreno, Amor, Sublime Amor
1. Lambert Wilson, Benedetta
2. Kodi Smit–McPhee, Ataque dos Cães
3. Édouard Sulpice, À L'abordage
4. Salif Cissé, À L'abordage
5. Kiyohiko Shibukawa, Roda do Destino
6. Elkin Diaz, Memoria
30 cenas do ano que mais me impressionaram, encantaram e mexeram comigo:
1. O encontro na vastidão do verde, “Memoria”.
2. O encontro no escritório da primeira história,
“Roda do Destino”.
3. Linguagem de sinais, “Drive My Car”.
4. A igreja, “Cry Macho”.
5. O voo do amor/"White Rabbit", “Matrix
Ressurections”
6. A cena da fogueira, “Tempo”.
7. O encontro final de Annette com o seu pai, "Annette”.
8. O karaokê, “À l'abordage”.
9. O clímax na chuva, “Limbo”.
10. O confessionário, “Procession”.
11. A rebelião, “Benedetta”.
12. O trem chega pela primeira vez, ““De Bakersfield
Para Mojave”.
13. O galpão, “Amor, Sublime Amor”.
14. O labirinto, “The Card Counter”.
15. O encontro final, “In Front of Your Face”.
16. Alana fazendo a descoberta no restaurante,
“Licorice Pizza”.
17. A delegacia, “Maligno”.
18. A cena do restaurante, “Introdução”.
19. O monologo do irmão, “Zero and Ones”.
20. A descoberta, “Mães Paralelas”.
21. A confissão no deserto, ““Ahed’s Knee”.
22. “Total Eclipse Of The Heart”, “Deserto
Particular”.
23. As crianças jogando, “What Do We See When We
Look at the Sky”.
24. O final, “Red Rocket”.
25. O piano, “Ataque dos Cães”.
26. Jamie Dornan soltando a voz, “Duas Tias Loucas
de Férias”.
27. “Adeus”, “Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a
Time”.
28. A despedida, “Luca”.
29. A última cena de Peter e MJ, “Homem–Aranha: Sem
Volta Para Casa”.
30. Leonardo DiCaprio surtando no programa de
entrevistas, “Não Olhe Para Cima”.
Menções honrosas: No Ritmo do Coração" (Siân Heder), "Não Olhe para Cima" (Adam McKay), "Judas e o Messias Negro" (Shaka King), "Petite Maman" (Céline Sciamma), "Luca" (Enrico Casarsa), "A Máquina Infernal" (Francis Vogner dos Reis), "Godzilla vs. Kong" (Adam Wingard), "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" (Jon Watts), "Vingança e Castigo" (Jeymes Samuel) e "No Sudden Move" (Steven Soderbergh).
Sobre famílias e as suas imagens que vão permanecendo.
Extremamente sensível em como relatar a realidade de um refugiado, desde as suas questões familiares até observando a sua descoberta sexual num tempo onde não lhe é permitido sentir o que ele sente entre passado e presente. As diferentes formas de animação que se utiliza para adentrar a mente do protagonista são belíssimas e o jeito que o filme constrói as cenas mais violentas sem precisar explicitar elas, mas transmitindo o seu peso é notável.
38. “Ostinato” (Paula Gaitán)
Entre sons, bares e papos.
37. “The Velvet Underground” (Todd Haynes)
Te sentir parte da banda pelos motivos mais inesperados.
36. “Azor” (Andreas Fontana)
O interior de homens pequenos que não sujam as mãos se chocando com o exterior.
35. “Introdução” (Hong Sang–soo)
34. “Maligno” (James Wan)
A obsessão pelo o que ficou para trás.
33. “A Lenda de Candyman” (Nia DaCosta)
Uma obra quando vai para o mundo deixa de ter dono, se transforma em propriedade do mundo, de todos, tal qual uma lenda pronta para ser evocada e recontada. Nia DaCosta entende isso alimentando o seu filme dessa tese que guia o estudo de personagem de Anthony (Yahya–AbdulMateen II, ótimo), o que naturalmente conduz tudo que a cineasta quer falar por meio do cuidado que projeta em seu ator central, em seu texto e na maneira extremamente imaginativa que tem em filmar uma metrópole construída ao redor de horror, carnificina e racismo.
30. "Dora e Gabriel" (Ugo Giorgetti)
O entendimento de uma cidade navegando pela explicitação narrativa e cênica do seu isolamento e do como ela está solitária nela mesma em diferentes círculos de destruição, invisíveis, macabros e infernais.
29. “De Dora, por Sara” (Sara Antunes)
As possibilidades imagéticas de se flutuar entre tempos sejam eles cruéis e monstruosos ou acolhedores sinais de amor e resistência.
28. “A Cidade dos Abismos” (Priscyla Bettim e Renato Coelho)
"Anjos da noite" estão dispostos a saírem de suas gaiolas para voar pela cidade. Nada vai os parar em sua luta. O mundo é cruel, os corpos dos que sofrem com o preconceito merecem respeito, merecem justiça, merecem um espaço para brilhar de forma plena e a arte quando percebe isso é muito poderosa em sua construção imagética imparável por som, poesia, registros, metrópole e horror. Aqui a percepção disso tudo rola solta e é foda demais de se sentir.
Reencontro escolar.
25. “Deserto Particular” (Aly Muritiba)
Como respirar tendo que sobreviver a uma estrutura conservadora?
21. “In Front of Your Face” (Hong Sang–soo)
Como que passeios e visitar lugares conseguem te dizer tudo sobre o estado de alguém? Hong novamente demonstra a sua habilidade de fazer um filme calcado em estado confortável de espirito na influência dos seus cenários para a sua protagonista, para expor o interior de um corpo levado para diversos cenários. Até que a banalidade revela a verdade.
20. “Train Again” (Peter Tscherkassky)
A utilização exata de um grande material para um grande cineasta: o trem e o próprio cinema. União da exatidão da transformação de imagens únicas.
19. “Ahed’s Knee” (Nadav Lapadi)
O cinema que te persegue e se coloca entre o abismo de um homem e uma câmera.
18. “What Do We See When We Look at the Sky?” (Alexandre Koberidze)
Alexandre Koberidze não fala diretamente de nenhum tema, assunto ou trama, ele trata de traçar um ensaio visual do que está ao redor, do que cerca, as questões que fascinam o seu filme: o amor e a paixão. Seja pelo o que for. E os mais possíveis. Seu filme muda a cada plano, a cada cena, sempre encontra um jeito diferente de traduzir e entender os sentimentos que trata do zoom até os reflexos, a claridade e a escuridão, assumindo um papel de reinvenção em uma direção de fotografia muito impressionantes e tão fascinante quanto o próprio filme que vai do vibrante até o mais poético. É uma experiência de abate visual tremendo. Sua mistura de imagem, ensaio, romantismo e literatura muito me lembra o cinema de Rita Azevedo Gomes com uma brincadeira propositalmente mais explicita de sua própria mistura, o que transmite exatamente as suas ideias: a extensão de algo (do filme de várias artes e do amor de diversas paixões como o futebol) e a mudança constante da vida sendo ela sonora ou estética.
Arte que sempre se mistura entre quem faz, quem admira, quem conta e quem ouve. Além de ser um estudo de personagem muito bonito sobre esse isolamento e mergulho artístico, também é extremamente engraçado em como estabelece todas essas uniões de polos e os seus atores extremamente bem dirigidos.
A encenação do Spielberg em um dos seus auges absolutos em um dos seus filmes que melhor mistura a sua doçura encantadora em administrar todos os seus elementos com uma brutalidade social tão bem compreendida que chega a ser espantoso.
14. “Licorice Pizza” (Paul Thomas Anderson)
Um filme sobre fantasiais impossíveis de serem materializadas ou plenamente materializadas, que só encontram uma segurança total na cabeça de quem fantasia, sobre a incapacidade de se construir relações sólidas mesmo quando essa relação central é infestada pelo poder de uma conexão que fascina os envolvidos e aqueles que a observam nascendo e se movimentando, sobre uma relação que é cíclica no seu esquema de ioiô e presa dentro disso. Alana Haim gênia.
12. “Annette” (Leos Carax)
A experiência artística é algo tão particular e também vasto que o ato de apresentar a sua arte pode ser ao mesmo tempo uma exposição de vergonha, de ser visto como patético, mas também de uma intensidade gigante na liberdade de criação, de fantasia e de se jogar dentro dos seus sentimentos sem medo, sem freios e abraçar que você está apresentando e o que você acredita enxergar. O constrangedor, a histeria e a entrega visceral passeiam de maneira constante dentro do grito de artistas ao se mostrarem. Na arte tanto a verdade quanto a mentira podem ser uma só de diferentes formas. Assim como a arte também pode revelar os seus lados mais sombrios, a monstruosidade da relação entre artistas e das suas famílias tocadas e destruídas pelos excessos e elementos mais tóxicos do seu mundo e desses artistas. Todos os sentimentos são muito intensos e Leos Carax guia eles com a histeria, a exposição da perversidade e o encanto que um artista é capaz de oferecer. Arte que pode ser tanto a cura para oferecer vida – até para um bebe fantoche – e a arma para levar morte por onde passa.
Uma ode à extrapolação. O apelo inabalável de um artista em administrar, entender, filmar e te jogar nessa completa extrapolação. E jogar mesmo. Te fazer afundar nisso. É o poder na administração e na fascinação que essa extrapolação causa é algo muito poderoso. A extrapolação da humanidade, do crescimento, das emoções, de ser jogado num grupo, dos problemas da vida, do instantâneo, da câmera imparável que se funde a esse ritmo emocional, dos olhares que se perdem, dos sons que aparecem, dos corpos em transformação, dos lugares que se invertem, dos ambientes sempre expansivos e da resistência da extrapolação em permanecer dentro dessa esfera até que ela se rompe pela junção de forças tão contrastantes.
A beleza da dança da vida. A celebração dos pequenos e inesperados atos que compõe uma retomada e uma jornada. Clint é um dos maiores mestres justamente por ser sempre surpreendente e impossível de se decifrar, e aqui em “Cry Macho” o seu jogo segue dessa forma. “Cry Macho” não é sobre a melancolia de um homem em seu fim de vida, e sim é sobre um homem que mesmo com os seus 90 anos ainda pode montar no seu cavalo e seguir vivendo, apesar de todas as suas dificuldades e demônios. Enquanto ele estiver vivo ele pode olhar para um horizonte, viver suas paixões, rir e descobrir a si mesmo. Clint segue fazendo os filmes mais lindos em sua estética e em sua temática entendo os seus cenários como partes vivas de uma jornada imortal.
https://app7.letterboxd.com/diegoquaglia/film/cry-macho/
O pré e pós são apresentados como um rito para o entendimento de uma luta para se deixar o purgatório ao construir novamente conexões que levam a confissões imagináveis para aqueles que fechavam as suas feridas no silencio. Hamaguchi filma as palavras, as estradas, os seus atores e as suas confissões – sejam elas na vida ou na arte – como ninguém. Filme devastador.
Lana Wachowski na sua primeira incursão sola pega a sua criação noventista e a transforma numa manifestação do que ela pode fazer com aqueles personagens e leva isso até o fim, da primeira cena até a última passando pela sequência pós–créditos. Uma exposição pessoal da sua própria artista, Lana analisa a contradição dos seus próprios sentimentos pela obra – se por um lado vemos uma sátira a pasteurização da arte pela grande indústria também vemos como o poder da arte é salvador – e os seus comentários sobre nostalgia e metalinguagem vão levando até a conversa entre ficção e realidade/política e representatividade que expõe um trabalho psicológico riquíssimo dos seus personagens. A farsa abre caminho para a busca de algo real, algo palpável, e esse algo palpável se apresenta no romance de Neo e Trinity, que juntos tem um valor simbólico extremamente amplo, mas principalmente de salientar como a busca pelo amor e busca pela liberdade artística são partes do mesmo algo imortal. E quando essa arte explode ela é até capaz de voar para sobrevoar novos céus. Lana recupera todos os conceitos primordiais de “Matrix”, mas os utiliza como fontes de suas próprias obsessões, paixões e feridas de maneira frontal e variada, e isso é lindo.
https://cineplot.com.br/matrix-resurrections-2021-de-lana-wachowski/
Primoroso todo o trabalho de câmera e de som para expor o funcionamento de um ciclo permanente. O que está redor a esse ciclo naquele ambiente e o que ele oferece para esse ambiente acaba fazendo uma diferença enorme nas sensações que o filme deixa com o seu comentário político, temático e artístico por meio da imagem e do som. A força de se filmar um trem sempre é algo irresistível para o cinema e Benning abraça a fascinação épica que é possível se encontrar até na indiferença e no tédio. O inesperado é o seu maior aliado.
https://cineplot.com.br/de-bakersfield-para-mojave-2021-james-benning/
Quem conta um conto revela um ponto. Nesse caso são vários. A arte da conversa e de como ela é capturada para expor os dilemas emocionais escondidos na trivialidade e banalidade do cotidiano. Hamaguchi mais uma vez se mostrando um mestre da captura e de ir aos poucos desnudando os seus personagens psicologicamente. É sempre inesperado para onde o filme vai mostrando a coincidência e o acaso como uma válvula para traçar os mais fortes e possíveis paralelos que trazem conexões sempre única e que são impossíveis de não causarem uma explosão ao serem assistidas.
Estar com os amigos é algo único e cada pedaço de
uma aventura dos tempos cotidianos importa quando você está acompanhado pelos
afetos triviais. Filme apaixonante onde cada segundo é de um calor humano raro.
Apichatpong adapta todas as questões do seu cinema –
uma relação entre as raízes da terra, a fantasia que está no mundano e um
estado de entrega e descobrimento total – para dentro de um cruzamento também
entre o que está na urbanidade e do interior ao se mergulhar em ambos. Ao mesmo
tempo que existe um sentimento de algo muito particular dentro de cada lugar
que Apichatpong caminha em sua obra, existe também um poder tão grau que ao
vermos a forma que ele elabora as suas cenas nós sentimentos de um caminho
solitário pela cidade de São Paulo, qualquer centro urbano ou qualquer lugar no
interior. Porque ele consegue compreender questões que são muito fortes dentro
da forma que nós sentimentos ao andarmos por esses lugares e nem conseguimos
expressar com palavras ou falas. Por meio da sofisticação no trabalho de som e
de imagem, “Memoria” consegue traduzir cinematograficamente os ambientes
falando com você sem que nada precise ser dito. A imersão dentro do ambiente
urbano por meio do som e da imagem vai se traduzindo numa imersão dentro de uma
viagem pontuada naturalmente para o inferno e onde realidade e fantasia se
casam completamente sem nenhum ruído. Tilda Swinton é uma força da natureza,
não é só a minha interpretação favorita do ano, como provavelmente é dessa sua
carreira, ela nunca esteve tão genial num papel porque justamente o seu
trabalho como protagonista é expandir toda essa visão mágica de Apichatpong por
meio de seu corpo, de seus olhares e de poucas palavras faladas com uma
suavidade fascinante. E ela faz isso maravilhosamente te sugando para dentro de
um mundo onde o cinema se mostra a arte certa para gênios como Apichatpong nos
levarem pela sua magia de som e imagem.
https://cineplot.com.br/memoria-2021-de-apichatpong-weerasethakul/
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