O MECANISMO: PRIMEIRA TEMPORADA (JOSÉ PADILHA E ELENA SOÁREZ, NETFLIX, 2018)
Criada pelo diretor José Padilha (dos dois “Tropa
de Elite”, do documentário “Ônibus 174”, “Garapa”, “Robocop” e “Narcos”)
e pela roteirista Elena Soaréz (da recente série “Treze Dias Longe do
Sol”, além das séries “Filhos do Carnaval”, “Cidade dos
Homens”, “Antônia e dos filmes "Gêmeas”, “Eu, Tu, Eles”, “Vida
de Menina”, “Redentor”, “Nome Próprio”, “Xingu”, “A
Busca”, entre outros), a nova série da Netflix “O Mecanismo” é
um drama político que acompanha de forma ficcional a investigação da Operação
Lava Jato se focando nos policiais: Marco Ruffo (Selton Mello) e Verena Cardoni
(Caroline Abras). Os políticos e envolvidos na Operação Lava Jato estão lá, mas
o vemos com nomes diferentes e a ação é muitas vezes ficcional buscando efeitos
dramáticos e de narrativa.
Bem, é impossível pra mim falar de uma obra com raiz
política, sem falar um pouco de política e da minha visão política das coisas,
até porque se eu falasse eu estaria sendo desleal, e é mais difícil ainda não
falar da opinião política do seu realizador em um produto como esse. Por isso
vamos começar falando de José Padilha, de como “O Mecanismo” é
vendido e de como ele realmente é. Realizador de muitos méritos, José Padilha
tem um discurso político e não esconde isso. Com o tempo foi ficando mais claro
que Padilha pode ser colocado na categoria do “isentão” (ou pelo menos
dos que usam a imagem de “isentão” pra encobrir o que são e pra que lado
tendem, mas vamos dizer que ele é “isentão” e ponto) – mete o pau na
esquerda e na direita, diz que as duas só roubam, é contra tudo e todos que
estão por aí, mas se tiver que votar em alguém e apontar um dedo em apenas um,
vota na direita e aponta o dedo para a esquerda, por mais que odiei admitir, a
simpatia para um lado fica maior e o mesmo sobre a antipatia pelo outro.
Seu discurso é extremamente anti–petista, aquele
discurso de quem acaba sendo tão cego pelo ódio ao PT que não enxerga nada além
disso e que vai bater panela pra Dilma mas na hora de falar de um Temer ou de
qualquer outro político a panela fica guardada na cozinha, o discurso de alguém
que não se identifica assumidamente com a direta, mas acaba servindo aos
interesses dela, é o tipo que a direita diz odiar, mas na verdade gosta e muito
e usa ou pelo menos usa para servir aos seus interesses. Ao promover “O
Mecanismo”, o discurso pra vender a série é de bobagens e obviedades como: “não tem
lado”, “é tudo quadrinha contra quadrinha”, “não tem ideologia”, “o mal ou o
maior mal do Brasil é a corrupção”, “ninguém presta”, “ela é apartidária”,
“político é tudo a mesma coisa e corrupção está na política”, “esquerda e
direita são ruins”, “ela é imparcial” e outras afirmações que também podem ser
vistas como bobagens rasas, fáceis, pobres, maniqueístas, ingênuas e até
perigosas (e muitas delas são faladas na série, porém não executadas), mas tais
afirmações quando vemos o produto ficam só na intenção mesmo e na fala, e a
série acaba sendo todas essas coisas por outros motivos.
Fica claro o esforço que Padilha, Elena (dois
profissionais competentes diga–se de passagem) e a equipe de roteiristas
tiveram de vender a ideia que o mecanismo no Brasil é independente de direita
ou esquerda, que a corrupção é um mal sistêmico, que é o maior mal do Brasil e
envolve a todos sem restrição. É um discurso que pode ser combatido e que
convence fácil, mas é válido, e algumas vezes o discurso chega perto de parecer
verdade, mas em outros fica claro o caráter tendencioso da obra e de como por
trás das suas características parciais ela acaba tendendo e servindo a um lado
que é bem especifico. O que não é de fato ruim ou proibido, pelo contrário,
particularmente acho que obras que assumem politicamente e suas posições, sejam
quais forem, acabam tendo mais méritos do que obras que contêm reais motivações
políticas, mas as escondem sob uma camada de parcialidade, que é o grande mal
das recentes produções sobre retratos políticos no Brasil, filmes e séries que
se assumem de direita ou de esquerda e contassem o que querem sobre esses
períodos da nossa historia recente talvez acabassem sendo produções mais
interessantes e honestas a meu ver.
O problema é quando você é vendido como obra “isentona”
e passa longe disso, nesse caso específico, ela até disfarça bem, mas o que ela
realmente é está claro. Então por mais que o elenco e a equipe, ou a Netflix
tentem enfiar goela abaixo que “O Mecanismo” não tem
lado (como se isso fosse um problema), o fato de a série ser baseada no
livro “Lava Jato – O Juiz Sérgio Moro e os Bastidores da Operação que
Abalou o Brasil” do jornalista Vladimir Netto (filho curiosamente ou não da
também jornalista Miriam Leitão) acaba fazendo muito mais sentido do que a sua
propaganda de parcialidade. Inclusive é bom se notar que do mesmo jeito que a
série é uma obra de ficção e avisa isso, é sempre bom lembrar que ela é sim
baseada em uma obra que não é ficcional e apesar de ser só baseada ela é sim
baseada em fatos reais: fica difícil separar coisas obvias unicamente porque
nomes foram trocados e botar a culpa em que vê a série se incomodando por decisões
que não tem problema em si e o problema acaba sendo o que elas representam para
a obra, desconsiderar isso só quando lhe convém não parece o certo. Também é
uma pena voltando a falar do livro que a série se baseia que apesar desse ser o
lado da narrativa, ele não foi assumido por ela. Se a série se assumisse logo
como uma exaltação da Polícia Federal e da operação e pronto ela funcionaria
mais do que se vender como uma obra que busca ver uma “operação importante, mas
falha” ou ver “como a corrupção está dos dois lados”. Se ela fica só na metade
com a primeira intenção, na segunda existem falhas grosseiras.
Alguns exemplos são a maneira caricatural e
artificial que as versões ficcionais de Lula e Dilma são retratados, algo que
você não espera de uma série com um teor realista. E a série ainda é desonesta
e moralmente problemático ao usar diálogos usados na famosa conversa de Sérgio
Machado e Romero Jucá como “estancar a sangria” e “construir um grande acordo
nacional” e coloca-los na boca da versão fictícia de Lula. Licenças poéticas
são bem–vindas, mas não licenças tão desonestas quanto essa. Isso é
extremamente problemático e de má fé e o absurdo não é porque se trata de Lula
ou porque ele não poderia ter falado algo assim, claro que poderia, mas o
problema é distorcer a verdade de forma mentirosa para criar uma narrativa que vai
totalmente contra aquilo que você está retratando. É algo canalha mesmo e que
prejudica a narrativa da própria série porque deixa claro o quão maniqueísta
ela é e dá mais motivos pra quem acredita na tendenciosidade dela. Não seria
muito mais fácil e digno tanto para a narrativa da obra e moralmente fazer uma
obra que assumisse logo a intenção de vilanizar o Lula e criasse algo ou
pegasse algo ligado a ele para cumprir essa intenção? Porque parece que a
decisão gratuita que a série toma acaba só fazendo mal para ela mesma e dizendo
muito coisa sobre ela e muita coisa que eu acho que ela não queria que fosse
dita.
Gostando ou não do Lula, do PT (que claramente tem
sim um papel na corrupção do Brasil, mas não é um papel único, exclusivo, maior
ou majoritário do que qualquer outro partido), a atitude é desastrosa. Lógico
que obras ficcionais baseadas em fatos reais tem mais que ter liberdades poéticas
mesmo e isso não pesa sobre eles como algo negativo, não existe um compromisso
fiel com a realidade, mas há de se esperar um pouco de ética quando está se
falando de uma narrativa que busca ter um tom realista. A questão não é mudar
em si, é o que mudar e como mudar. Essa mudança não soa como uma mudança para
buscar um fim narrativo e que vai adicionar a obra seja qual seja sua intenção,
e sim como uma mudança maldosa que revela o real lado de uma obra que diz não
ter lado. Aí por isso que é tão problemático.
Para citar alguns exemplos tanto o excelente filme
quanto a fantástica série “Fargo” se apresentam como uma
historia real e aquilo é mentira mas isso não é anti–ético porque faz parte da
grande brincadeira de humor negro que os Irmãos Coen e Noah Hawley querem
propor. O fantástico “Bastardos Inglórios” é um filme sobre
Segunda Guerra Mundial que comete várias loucuras e invenções mas ele jamais
tenta se vender como uma narrativa realista sobre esse período e sim como um
olhar específico com o estilo de Tarantino sobre ele. O próprio Narcos do José
Padilha é cheio de liberdades poéticas e históricas ou erros históricos mesmo
ou pelo menos controversa nesse sentido. Erros históricos e liberdades poéticas
existem em qualquer filme histórico ou série, das melhores até as piores obras.
Nos seus melhores exemplos podem ser facilmente relevados, porém você de forma
consciente não fazer uma mudança e sim alterar algo de forma gratuita e com um
sentido claramente maldoso, invertendo as coisas, dando a imagem que você tende
pra um lado que você diz não seguir, é desonesto. Não queremos fidelidade em
acontecimentos verídicos, mas isso também não é desculpa pra esse tipo de
absurdo e de posturas covardes.
E para ressaltar isso, temos a maneira que a versão
fictícia do juiz Sergio Moro é construída. Se nas versões de Lula e Dilma eles
são vilanizados e ridicularizados, Sergio Moro é exaltado como um verdadeiro
herói, na verdade, um super–herói literalmente. E essa exaltação vem da maneira
mais ridícula, superficial e óbvia possível com Moro lendo um gibi com um
super–herói chamado “O Vigilante Sombrio” (!!!), andando com a
sua bicicleta por Curitiba, humilde (juiz humilde no Brasil!!!), sendo um poço
de simpatia e sendo o pai de família perfeito e exemplar. Qualquer falha de
caráter ou defeito que o juiz tenha não existe, é nulo, ele é apenas o herói
padrão obstinado e cheio de dúvidas e inseguranças perseguindo os vilões que
são totalmente ruins e não tem nenhuma camada ou traço levemente humano. A
série trata um pouco da vaidade do juiz e do seu ego gigante, mas acaba soando
apenas como mais um detalhe, inclusive esse é um dos problemas da série quando
se trata de política, toda vez que ela aborda o lado da direita de forma
crítica (e ela faz isso sim) parece que a abordagem é só pra disfarçar. Por
exemplo o vice–presidente Michel Temer em sua versão é tratado como o traidor
desprezível e sedento por poder, enquanto Aécio é mostrado como o bandido
medíocre e falso (além da série de maneira não explicita ressaltar o seu vicio
em drogas, bebidas e o seu jeito mulherengo digamos por falta de palavra melhor,
porém ao mesmo tempo deve–se notar que Aécio é uma figura já queimada na direita
então é fácil atirar pedras nele nesse momento), enquanto fica a promessa de
uma suposta segunda temporada tratar do golpe (também chamado como
impeachment).
Porém também deve se notar que figuras importantes
do período que habitavam nas sombras como Eduardo Cunha (um dos candidatos a
bandido–mor do Brasil) tem as suas versões ficcionais apenas citadas de forma
bem leve e rápida não tendo o seu papel central nas sombras representado, além
de se limitar ao falar das raízes do golpe esquecendo papel do legislativo e do
judiciário nele além dos interesses externos e do capital da elite brasileira
se resumindo apenas ao executivo e ao papel da mídia (que é apenas citado em
críticas claras á revista Veja e a mídia no geral, mas também nunca tão
aprofundando como deveria). E também é de se notar que todas as críticas aos
políticos do lado oposto ao PT são muito ocasionais (em três episódios a
maioria das críticas vão todas para a esquerda e só a partir do quarto que
vemos de forma muito ocasional a direita sendo criticada). Parece que a série
só apresenta essas coisas pra disfarçar e dar uma aparência de parcialidade que
não existe porque quando se compara os pesos, o peso tende muito mais pra um
lado, e esse é o grande problema de quem se diz “isentão”.
O que faz que tudo isso soe incômodo é o maniqueísmo
irritante da série: a Polícia Federal é exaltada a série toda, retratando a
instituição do Estado como heroica, como um instituição quase infalível durante
boa parte do tempo, formada por heróis obstinados e (quase) perfeitos. Qualquer
abuso ou erro que a Polícia Federal tenha cometido, ou são justificados com
aquela famosa passada de pano, ou são inexistentes. Também é inexistente a
informação que ela é instrumentalizada pelo Estado, e só bem no final vemos
algumas da falhas e a corrupção na Polícia Federal, mas até lá eles já foram
exaltados ao extremo e tem aquele mesmo gosto de “só estar lá pra disfarçar”
que a obra tem por não se assumir totalmente em nada. Claro que existem
criticas e ressalvas a Policia Federal na série, mas no final das contas quando
você vai olhar no geral e enxergar a coisa numa visão geral o que fica é o heroísmo
dela nesse situação. E isso é complicado.
Pensando no livro em que a série é baseada e na
posição do próprio Padilha sobre a polícia federal, talvez seja a intenção da
série mesmo e o seu lado: exaltar a política federal ignorando ou diminuindo
qualquer defeito dela, mas essa intenção nem é clara e se choca com outros
interesses da obra. Porém com proposta ou não, o maniqueísmo também choca por
estar vindo de alguém que soube fugir em parte do maniqueísmo de forma mais
eficaz e ter uma visão mais auto–critica sobre instituições do Estado e quem
trabalha nelas em filmes como “Tropa de Elite” é de se chocar.
Mas se os problemas se resumissem a isso, até vai, mas os personagens acabam
sofrendo com isso, os heróis acabam sendo perfeitos (ou pelo menos quase),
quase sem falhas graves e cheios de qualidades que fazem com que eles pareçam
irreais, e os vilões são totalmente perversos e desprezíveis com poucos traços
de humanidade (com algumas exceções). Vendido como algo que fuja do preto e
branco de escolher lados, “O Mecanismo” acaba sendo infestado
pela visão preto e branca e maniqueísta que ela tenta fugir.
E não são aí que os problemas narrativos acabam.
Sobram problemas no roteiro de “O Mecanismo” além da sua clara
falta de sutileza ao tratar dos temas que trata, ainda temos um roteiro extremamente
repetitivo, exageradamente clichê e fraco, além de ser extremamente didático da
forma mais desnecessária e patética do mundo. É um tom infantil que segue a
série o tempo todo em uma narrativa frágil, tola e apressada. Ela parece até
uma comédia involuntária na sua grande maioria. Não dá pra se levar ela muito a
sério com algumas atitudes pelo seu tom extremamente caricatural enquanto tenta
fingir uma seriedade mesmo com mudanças grosseiras, nomes inventados
pateticamente engraçados e um tom artificial e fak em tudo. Um dos erros mais
alarmantes é como a obra usa uma narração em off constrangedora
dos dois protagonistas pra tentar justificar os problemas que o roteiro tem,
sendo uma narração bastante repetitiva e que como todo o roteiro da série, é expositiva
de forma demasiada.
Se nos trabalhos anteriores de Padilha como “Narcos” e
os “Tropa de Elite”, a narração não incomoda e de fato conseguia
ser um bom elemento na narrativa (principalmente em Tropa e menos em Narcos,
mas ainda assim), aqui vemos justamente porque uma narração se não é bem
colocada pode ser um elemento bem problemático em um roteiro. Os diálogos não
soam naturais, como eu já falei, o texto é ruim, tem um excesso de didatismo,
auto–explicação e exposição em cada diálogo. A série que é cheia de frases de
efeito e um tom professoral pra explicar o que está acontecendo. Às vezes
funcionam mais por causa dos atores do que por delas em si e outras vezes
parecem ridículas. Os primeiros episódios não encontram o seu caminho
narrativo, não sabendo se seguem mais as jornadas pessoais dos personagens principais
ou investem em inserir o público no complexo mundo político. Existem erros
grosseiros de falta de sentido no roteiro e na montagem. As coisas não se casam
bem entre si, a série parece corrida, as cenas muitas vezes não se conversam e
não fazem sentido. Ainda tem o problema que muitas vezes o ponto de vista no
cenário político sejam os “vilões” e eles tomem mais tempo de tela do que os
protagonistas, o que faz com que a gente conheça melhor eles, já que a parte da
investigação é muitas vezes colocada de lado e os personagens principais fiquem
muitas vezes jogados de escanteio.
A já mencionada repetição não irrita apenas nos
diálogos já que por exemplo a mesma situação acontece duas vezes seguidas com
um dos vilões interpretados pelo ator Leonardo Medeiros, que se destaca por ser
um dos poucos personagens do lado negativo da historia que são tratados com um
pouco mais de profundidade e que tem uma trama familiar interessante sobre como
as famílias reagem e se veem como injustiçadas por não “saberem de nada” mas
usufruem do dinheiro sujo. Porém, até ele acaba sendo usado apenas como um
mecanismo de roteiro. Perto do final, o roteiro de “O Mecanismo” acerta
em finalmente mostrar que existem falhas sim na Operação Lava Jato, nos seus
envolvidos e humanizar não só eles mas também a Operação. É um alívio ver esse
tom de realidade em uma historia que até então soava tão sem verossimilhança.
O talento de Padilha é considerável e também é
considerável como ele é competente no domínio técnico e de narrativo (nesse
caso nem tanto pro lado narrativo). O fato dele já estar acostumado com a
narrativa policial e de investigação faz com que ele domine muito bem essa
parte quando o assunto é o núcleo investigativo de “O Mecanismo”.
Por mais defeitos como construção que eles tenham, Ruffo e Verena acabam sendo
personagens interessantes e a investigação dos dois soa interessante talvez.
Mas talvez os personagens soem mais interessantes pelos excelentes atores que o
interpretam do que por eles mesmos. Esse lado de investigação da série se
assemelha muito a magnifica serie The Wire da HBO, porém fica só na
semelhança mais rasa possível, porque não existe nem como comparar o nível de
The Wire ao nível de O Mecanismo. É até um pecado falar das duas na mesma
frase.
Quando se investe mais no lado palpável da
investigação e dos conflitos internos delas, vemos o que chega um pouquinho
perto de serem pontos altos da série, mas só chega perto. Selton Mello começa
exagerado demais, mas com o tempo vai encontrando o tom certo e apresenta um
trabalho muito bom mesmo o seu policial caindo no clichê batido do “policial
obcecado com o caso” e mesmo que o fato da sua trama familiar seja
completamente desperdiçada. Ele é simplesmente o mais do mesmo, uma formula
repetitiva como tudo nessa serie, um Capitão Nascimento genérico e wannabe com
cenas primarias e patéticas que estão lá querendo mostrar os “conflitos” do seu
personagem. Outra coisa que incomoda na série também é como não existe
construção pra entendermos os personagens e como eles chegaram ao momento que
estão agora para criar um desenvolvimento interessante, pelo contrario, as
coisas são apenas jogadas, tudo é apressado, mal construído. Já Caroline Abras
está ótima e convence durante todo o andamento da série no tom correto, porém o
jeito que a sua personagem é tratada é terrível, a trama romântica da sua personagem
é pateticamente fraca e a sua personagem tem uma série de cenas constrangedoras
inclusive cenas de sexo vergonhosas. O resto do elenco é cheio de bons e ótimos
atores, alguns deles desperdiçados (como o talentoso Lee Taylor por exemplo),
mas todos com um bom trabalho, apesar dos personagens serem muitas vezes
ingratos. O maior destaque do elenco e da série como um todo é o fantástico
ator Enrique Díaz que rouba a cena compondo o doleiro Ibrahim, um vilão
absolutamente carismático, interessante, fascinante e engraçado, caminhando por
várias características e camadas, por isso conseguindo ser muito mais rico do
que o resto dos personagens.
Tecnicamente, Padilha e os outros diretores da série
como Daniel Rezende (de “Bingo – O Rei das Manhãs”), Marcos Prado
(de “Paraísos Artificiais”) e Felipe Prado mostram uma competência já
esperada e algumas sequências muito inspiradas do ponto de vista técnico da
coisa. Também é muito inspirada a fotografia do sempre talentoso diretor de
fotografia Lula Carvalho que usa elementos cinematográficos de luz pra
descrever as características e o ambiente de Ibrahim. Porém ao mesmo tempo um dos
problemas mais graves da série se encontra na técnica dela: é o som. As vozes
da série são muito baixas (principalmente a do Selton Mello), os efeitos
sonoros são altos demais e toda a utilização e o trabalho do som da série
incomodam demais e atrapalham na imersão na narrativa da série.
É bom dizer que independente de direita ou esquerda,
existem obras–primas que tomam esses lados independente de você concordar com
eles ou não e isso não exime elas de serem obras–primas. Existem obras que vão
contra tudo que você possa acreditar e podem ser problemáticas mas elas são
extremamente bem feitas tecnicamente e narrativa e acabam se tornando grandes
obras. O que acontece com “O Mecanismo” é que o ruim nela não se resume
a parte moral, politica ou temática, o que acontece é que ela é extremamente
ruim como audiovisual.
Porém por mais que tenha os seus alguns acertos
técnicos e no elenco (e alguns poucos momentos inspirados do roteiro), “O
Mecanismo” peca demais, tanto como retrato de um momento político,
quanto como thriller político e policial de investigação. Tentando
ser uma coisa ou outra, acaba sendo extremamente fraca tecnicamente e
principalmente narrativamente. No final, ele acaba sendo apenas uma grande
farsa.
NOTA: 3.5 de 10
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