BARTON FINK – DELÍRIOS DE HOLLYWOOD (BARTON FINK, 1991, JOEL AND ETHAN COEN)

Na sua superfície, Barton Fink conta a história do personagem titulo (John Turturro), um jovem dramaturgo em ascensão na Brodway da década de 40 que acaba sofrendo um caso grave de bloqueio criativo ao ser contratado para escrever um roteiro de cinema pela primeira vez na sua vida para Hollywood enquanto está hospedado em um hotel estranho e desenvolvendo uma complexa “amizade” com o seu vizinho de quarto, o misterioso Charlie Meadows (John Goodman). Porém como eu disse o brilhantismo desse filme está no fato dessa sinopse ser só a superfície dele.

Entre a década de 80 e 90 os Irmãos Coen se revelavam a cada filme cineastas mais e mais interessantes e promissores dentro do circuito independente americano, nesse começo de carreira da dupla eles já haviam feito os muito bons Gosto de Sangue (Blood Simple, 1985) e Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987) além do ótimo Ajuste Final (Miller’s Crossing, 1991). Foi justamente na época em que eles desenvolviam o roteiro de Ajuste Final que os Irmãos Coen sofreram eles próprio um bloqueio criativo o que os levou a dar uma pausa no processo de criação do filme e escrever em três semanas o roteiro de Barton Fink.

Os dois filmes tem várias semelhanças: serem filmes de épocas, obras recheadas de referências, terem John Turturro em um papel de destaque no elenco (Barton inclusive foi escrito exclusivamente para ele já com o ator em mente, o mesmo ocorreu com John Goodman que já teve Charlie escrito com ele em mente pelos Coen) e principalmente serem os filmes mais maduros e bem acabados narrativamente e tecnicamente da dupla. Em especial Barton Fink que é sem dúvida um dos pontos mais altos e ricos que os Irmãos Coen já alcançaram, talvez até o mais.

O roteiro de Bartonk Fink é simplesmente um dos melhores roteiros já escritos. É excepcional cada camada desse trabalho, mas como qualquer roteiro excepcional a sua superfície consegue sobreviver e mostrar a sua força sozinha, mas tem muita riqueza e profundidade por trás delas. O roteiro começa estabelecendo a sua história de forma simples: a desventura de Barton e o seu bloqueio criativo, o estudo de personagem feito com ele enquanto ele navega pela primeira vez pelo mundo do sistema de estúdios no cinema assim como ele navega pelo estranho mundinho particular que é o Hotel Earle e a sua curiosa relação com Charlie. Isso tudo sozinho já cria uma história poderosa e interessante mostrando um Barton perdido tentando suportar essa espécie de purgatório existencial onde está inserido e ao mesmo tempo usando isso para ter uma tentativa de jornada de autoconhecimento e crescimento como ser humano. Parando para ver nem o que é simples nesse filme é tão simples assim na verdade já que se consegue encontrar uma riqueza muito grande até nesses elementos da sua superfície.

E essa profundidade está também nos diálogos que mostram todo o talento dos Coen como criadores de diálogos. Não seria exagero dizer que Barton Fink é um dos filmes com os melhores diálogos do cinema. Seja o diretor do estúdio Jerry Lipnick (Michael Lerner) falando várias vezes sobre “aquele espirito Barton Fink”, ou quando ele diz na sua humilhação final com o personagem título “You ain’t no writer, Fink—you’re a goddamn write-off” (o que se perde um pouco na tradução para algo como “Você não é um roteirista, Fink, você é um maldito caso perdido”), na verdade tudo que sai da boca dele são diálogos preciosos, assim como tudo que o seu assistente Lou (Jon Polito) diz nas poucas vezes que fala como quando ele anuncia o nome de um dos filmes do estúdio como “Sangue, Suor e Tapete”, tudo que o produtor de cinema Ben Geisler (Tony Shalhoub) diz para Fink em seus encontros como “escritores vão e vêm. Sempre precisamos de índios” ou “Ele consegue escrever o nome dele nos recebidos do ordenado toda semana”, ou quando o escritor e ídolo de Barton W.P. Mayhew (John Mahoney) lhe oferece “um pouco de lubrificante social” quando eles se conhecem, até mesmo muitos diálogos envolvendo os dois policiais (Richard Portnow e Christopher Murney) que abordam Barton em duas ocasiões no filme como quando um deles diz “já reparou com ele não anotou nada?” são momentos que mostram toda a grandeza do humor presente no filme.

O dialogo vai além dos momentos de humor conseguindo deixar claro quem são os personagens apenas pelo jeito deles falarem e como ou o que eles falam, sejam os expansivos, falsos e opressores homens de Hollywood, ou o jeito aparentemente mais humilde de Charlie que tem a sua própria visão da “vida da mente”, e o próprio Barton quando tenta explicar o seu roteiro para Lipnick acaba mostrando toda a tristeza da sua situação quando ele diz para Lipnick “Eu tentei te mostrar algo belo”. Nenhum dialogo é dito no filme de forma a toa ou só por ser dito, cada um deles consegue de forma impressionante mostrar quem são aqueles personagens e a situação deles, criando um universo fascinante, que consegue ser tão cativante quando deprimente para cada uma daquelas pessoas.

As conversas de Burton e Charlie por exemplo são um exemplo claro de como os diálogos que eles trocam mostram todo o ponto da filosofia contraditória do personagem principal: o artista intelectual e o “homem comum” que tanto o fascina a distância na sua frente pela primeira vez de forma realmente profunda. Mas essas conversas não estão aí apenas para ilustrar esse ponto, vemos como elas de forma natural vão construindo os dois personagens e a relação entre eles aos poucos de forma genuína, particularmente na amizade que acaba nascendo do relacionamento dos dois, mesmo que a amizade no final das contas acabe se tornando algo que a primeiro momento não parece ser, o sentimento de amizade entre os dois é genuíno. Pelo menos o sentimento de uma conexão sincera entre dois seres tão diferentes. Isso é completamente genuíno.

Chegando próximo do fim do filme, se percebe que o lutador “bom” e o “mau” presente na formula de filmes de luta que é apresentada para Barton consiste muito no relacionamento que Barton e Charlie desenvolvem com o passar do filme, só que sem nenhum toque do maniqueísmo presente nessa formula, só mesmo a referência explicita tanto pelo “combate” físico que eles ensaiam em determinado momento do filme e como os personagens se revelam com o passar do filme. Além disso, o contraste da masculinidade de Barton e Charlie é um dos temas mais constantes do filme, mas o curioso é que o constaste da masculinidade de ambos não surge para separar e criar um conflito entre eles, e sim os deixa extremamente mais próximos em todos os sentidos sem que ambos se importem com isso. E isso é apenas uma parte do filme já que esse roteiro é extremamente inteligente em colocar significados mais profundos dentro dele tanto tematicamente quando simbolicamente.

Há aspectos mais simples como a relação do filme com a vida real, o fato de o personagem Barton Fink ter sido inspirado no dramaturgo Clifford Odets e na sua experiência como roteirista em Hollywood, em W.P. Mayhew ter sido inspirado no escritor William Faulkner e em Jerry Lipnick ser inspirado em vários magnatas da indústria cinematográfica de Hollywood e chefões de estúdios da vida real como Harry Cohn, Louis B. Mayer e Jack Warner. E apesar dessas inspirações, os personagens não ficam reféns delas e sobrevivem por si próprios.

Porém usar essas figuras como apenas inspirações de forma bem superficial na maioria dos casos é a forma fascinante que o filme constrói o subtexto que desenvolve a jornada do seu personagem principal. É espetacular como não existe nada de simples, maniqueísta ou simplista no jeito que o filme explora as experiências artísticas de Barton e o seu processo criativo. O que vemos não é o sistema opressor e ganancioso de Hollywood oprimindo um artista inocente, temos sim a crítica a uma Hollywood industrial construída em cima de formulas e falsidade que não suporta a visão autoral de alguém e a destrói, mas Barton é um personagem muito mais rico do que só “o artista oprimido” e o filme nunca é maniqueísta ou unidimensional ao tratar dele.

Barton hesita em aceitar o seu sucesso, mas sente orgulho de ser aclamado. Ele sabe que a Broadway é um ambiente tão elitista e opressor quanto Hollywood é, mas se sente melhor lá porque está mais livre e sente uma falsa sensação de proximidade para quem ele almeja escrever. Vemos Barton lutando para encontrar alguma inspiração e quebrar o seu bloqueio criativo, mas também vemos todo o seu jubilo quando o assunto é a sua visão artística. O roteiro desenvolve muito bem a contradição ambulante que é Barton como ser humano, o que faz dele um personagem honesto e tridimensional, exemplos disso são a forma como ele divaga sobre o homem comum, enquanto ignora e não dá ouvidos a um “homem comum” quando ele está na sua frente que é o caso de Charlie, e diz que faz um teatro para eles como sua forma de arte, enquanto despreza o cinema apesar do cinema ser uma forma de arte e uma forma de arte popular mais acessível. Barton é um hipócrita pedante e cheio de auto–piedade, mas também é apaixonado, educado, ingênuo e tem um bom coração. Alguém que por melhores intenções que tenha não consegue entender dinâmicas básicas de execução e paga caro por isso.

Assim como paga caro pela sua ingenuidade que faz com que ele não consiga enxergar o tamanho da maldade presente no ambiente em volta dele nas suas relações, e o filme de forma muito inteligente, faz um paralelo entre essa maldade e o fascismo tanto nos momentos de Barton com os policiais quanto na última aparição de Charlie e o ato final que ele faz nela, o que faz muito sentido nesse cenário de Segunda Guerra Mundial na década de 40, tornando Barton um exemplo de alguém que pode passar imperceptível ou até fascinado com o fascismo e maldade em volta dele mas que ele não enxerga. Isso tudo faz de Barton Fink um personagem humano, falho e rico. O estudo de personagem que o filme faz nunca é simplista, porque o roteiro dos Irmãos Coen estuda esse personagem explorando tão a fundo tanto as suas verdades quanto contradições que conseguem criar tanto um artista quanto uma pessoa. E isso serve com todos os personagens ao seu redor por menores que eles sejam.

E também temos o paralelo entre o Hotel Earle e Hollywood, o que reforça a ideia de que Barton esteja no purgatório. O Hotel Earle é desconfortável e quente, o que resulta em umidade que leva os hospedes a doenças e terem que lidar com mosquitos, porém os poucos momentos de conexão emocional verdadeira que Barton tem são nele quando conversa com Charlie, já Hollywood é linda, árida, limpa, mas completamente oca e vazia, toda a sua beleza está parte de fora, mas por dentro ela é suja, triste e superficial. Barton Fink encontra toda a sua conexão emocional e a sua verdadeira inspiração no decadente Hotel Earle, já em Hollywood Barton só consegue encontrar o vazio, um ambiente que ele não se encaixa e os seus sonhos quebrados até ponto em que quando ele encontra o seu ídolo em Hollywood, ele logo se revela como alguém quebrado também, um ídolo caído, um ser humano não merecedor de nenhum respeitado ou admiração.

A sensação de paranoia cerca tanto a historia de Barton, quanto está presente na historia de Charlie, quanto está presente na ideia da Segunda Guerra Mundial que se aproxima, quando está presente na ideia do já mencionado fascismo que vem chegando junto com o nazismo, essas são facetas presentes no roteiro de forma tão sutil e que ele coloca no filme de forma tão natural. Cheio de referencias que vão desde os primeiros filmes de Roman Polanski até Hitchcock, passando por O Iluminado (The Shinning, Stanley Kubrick, 1980) até Constrates Humanos (Sullivan’s Travels, Preston Sturges, 1941), os Irmãos Coen ainda conseguem criar o seu filme mais autoral até hoje, conseguindo falar do processo de criação e inserindo isso no tema principal do filme: o processo de criação e a sua relação com a indústria do entretenimento. Dá pra se arrancar tantos simbolismos e intepretações tamanha é a riqueza do roteiro desse filme que é melhor parar por aqui porque isso poderia durar o dia todo. Os roteiros do nível de Barton Fink são muito raros.

E claro o roteiro dos Irmãos Coen só funciona e é tão bom na sua execução porque esse é um filme dirigido pelos Irmãos Coen. Sem a direção deles que é tão importante quanto à escrita deles todo o potencial desse roteiro seria desperdiçado. Barton Fink talvez seja o caso mais claro disso. Nas questões técnicas vemos como eles dois estão em um processo de evolução tamanho mostrando uma grande destreza técnica não desperdiçando nenhum aspecto na ótima direção de arte, na fotografia e no som assim como a trilha sonora o que ajuda a criar ambientes idiossincráticos distintos entre si, mesmo que eles façam parte do mesmo mundo. Tudo que está escrito é amplificado ainda mais visualmente mostrando visualmente as diferenças entre o Hotel Earle e Hollywood ressaltando ainda mais o contraste entre os dois. A direção deles também consegue dar vida a esse sentimento de isolamento e paranoia que cerca o filme feito de formas diferentes através do trabalho da câmera deles e de montagem que sempre é cuidadosa e interessante. Outro fator muito interessante da direção deles são as ótimas transições de cena e movimentos de câmera sendo as cenas em que a câmera foca na maquina de escrever de Barton parada e então logo a vemos sendo usada e percebemos que agora essa é na verdade a marca de escrever da secretaria de Ben Geisler, assim como depois da cena de sexo entre Barton e Audrey Taylor (Judy Davis), a secretária pessoal e amante de W.P. Mayhew, vemos a câmera passando pelo quarto, indo para o banheiro e entrando na piada até voltar em Barton na próxima cena.

O equilíbrio de tons que é a marca registrada dos Irmãos Coen nesse filme é novamente o destaque. Eles conseguem aqui fazer um filme de comedia que é hilário, um filme dramático que é extremamente comovente e impactante, e até mesmo um filme de terror que te deixa incrivelmente tenso e morrendo de medo. E ele atinge cada um desses gêneros de forma certeira, mas talvez o mais importante o fato deles mesclarem perfeitamente esses gêneros entre si no mesmo filme. O estilo abrangente deles cai como uma leva nessa realidade cheia de constantes que o filme trata e que tem uma construção de universa tão cuidadosa.

Essa construção de universo é percebida não apenas nos aspectos técnicos, mas também na direção de atores que cuidadosamente determinada esse universo mais extravagante constatado com o tímido Barton Fink fazendo com que as atuações mais expansivas pareçam propositalmente opressivas em torna a intepretação do protagonista John Turturro. É uma direção brilhante dos Irmãos Coen que consegue ampliar o texto já brilhante deles fazendo um estudo de personagem e do seu universo totalmente original de uma ideia aparentemente simples em sua “superfície”.

A sutileza que passeia o filme todo fica clara na sua direção fotografia que é um exemplo gigantesco de um filme fotografado de maneira discreta e sutil porém bela e poderosa, é mais um ótimo trabalho que você esperaria de Roger Deakins. Deakins usa a sua paleta e a iluminação para criar uma vibração no tom certo que torna com que o filme pareça deslumbrante enquanto continua com as camadas certas e necessárias do sentimento de alienação e isolamento que ele tem. Mas por outro lado também não impede que ele seja verdadeiramente belo como no plano final da mulher que Barton observa, remetendo ao  cartão postal que vimos anteriormente em uma das suas cenas com Charlie. Porém essa beleza funciona justamente pelo contraste do que já vimos e pelo significado disso em cenas muitas vezes. Nessa cena em especial, como a vida imita a arte. O filme é cheio desses momentos em que a beleza é centralizada criando brincadeiras muito “divertidas” pra fotografia quando ela soa bela em cenas que forma um contraste com coisas que não deviam ser tão belas assim, e ainda fazem isso enriquecendo as cenas pela fotografia, como na forma em que a cena final com “Charlie” é iluminada, fornecendo visualmente o calor e a intensidade adequados ao fogo do inferno. E isso é só apenas parte disso já que já citado a câmera em Barton Fink tem movimentos como um voyeur, o que adiciona demais para a obra nas cenas de hotel, criando a sensação como se o próprio hotel estive vivendo junto com Barton e assistindo tudo que isso faz, o que fica claro na já citada cena da pia. E além dessas cenas e fora do hotel, o próprio Barton é fotografado de maneira perfeita como um homem distante e isolado que só tem intimidade e proximidade da perspectiva do espectador e de ninguém mais.

A trilha sonora é igualmente discreta, também porque não é usada com muita frequência pelo filme, mas Carter Burwell cria mais uma trabalho incrível ao fazer que a música construa ou ajude na construção de boa parte das cenas. Não é uma trilha que muitas vezes ajuda a construir a intenção do que a cena está fazendo geralmente, com exceção da cena de montagem em que Barton está escrevendo onde se toca uma melodia baixa mas muito comovente. A trilha por outro lado funciona perfeitamente dentro e com o filme já que Burwell escolhe os instrumentos com um tremendo entendimento e as escolhas ampliam o filme de forma muito funcional sem que o filme chame atenção pra si mesmo nesse sentido. É um trabalho muito discreto e modesto, mas que é perfeitamente correto para o filme.

Agora sem dúvidas uma das maiores forças de Barton Fink está no seu excelente elenco com dois grandes destaques. Temos John Turturro fantástico no papel da sua vida, ele carrega esse filme incrível de forma brilhante e rica tanto entendo e sabendo expor as particularidades de Barton quanto se destacando nesse retrato sincero e humano de um homem normal preso em um mundo estranho. Ele é fascinante, engraçado ás vezes, e comovente como na sua cena final com Lipnick em que Barton é completamente destruído e a sua fala sincera para Lipnick é extremamente desoladora em um momento genial de Turturro. Falando em genial, não é exagerado nenhum chamar a intepretação de John Goodman nesse filme dessa forma. Goodman é absolutamente brilhante conseguindo ser carismático, engraçado, emocionante e extremamente assustador tudo no mesmo personagem. Sua química com Turturro é uma das melhores entre dois homens no cinema tornando o relacionamento de Barton e Charlie extremamente palpável, e na sua sequência final Goodman está simplesmente arrasador. Michael Lerner só aparece em três cenas mas ele domina quase por completo as três com uma atuação tão divertida quanto assustador retratando com perfeição esse executivo de cinema que fala muito. Além da dupla principal e dele, ainda temos coadjuvantes excelentes que roubam a cena sempre que aparecem como uma excelente Judy Davis, além de Tony Shalhoub, John Mahoney e Jon Polito que estão ótimos nas poucas cenas que aparecem acrescentando muito ao filme.

Rica em todos os aspectos como cinema, rica em significados e intepretações, essa viagem dos Irmãos Coen ao observar o processo criativo de um artista e os diversos temas em volta disso mesmo depois de tantos filmes majestosos continua sendo a obra–prima da dupla. E isso definitivamente não é pouca coisa.

NOTA: 10

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