VICE (ADAM MCKAY, 2018)

Quem é e o que move o
monstro invisível que se esconde nos bastidores da política? É essa tese que
Adam McKay tenta construir, elucidar ou apenas tratar em Vice a cinebiografia
do vice-presidente norte–americano Dick Cheney (Christian Bale) passando do seu
período no governo de George W. Bush (Sam Rockwell) ao seu casamento cheio de
dinâmicas de poder com a sua fiel companheira e parceira Lynne Cheney.
Ao mesmo tempo em que constrói essa o cineasta não resisti em gritar seu senso de auto–importância a cada minuto em uma tentativa de autoafirmação constante como um “diretor sério” em uma biografia política “prestigiosa” mais nefasta em seu tom e ao mesmo tempo mais um retrato satírico, político e cômico da elite americana. Nesse sentido assim como vimos em A Grande Aposta (The Big Short, 2015) e estando presente a mesma estilização, mão pesada e o tom frenético que não para… Nunca investindo na composição dos atores, uma montagem rápida, cortes velozes e uma piadinha a todo momento enquanto insere batidas (em alto volume) da seriedade de sua narrativa.
O grande problema de Vice é que McKay consegue destruir completamente a sua ideia central em sua execução e o casamento entre os dois tons acaba sendo algo totalmente torto e bagunçado. Como vimos em A Grande Aposta, nesse filme a mania de McKay em parar a narrativa para inserir piadinhas estruturais dando aquela “piscadinha” para o público continua firme e forte. A cada momento que a narrativa para várias e várias vezes se tornando cansativo de modo terrível pra que mais uma piadinha de estrutura desnecessária e autoindulgente apareça fica claro que o filme fala pra quem o assiste algo como “olha só, como eu sou inteligente hein”. Bem, infelizmente ele não é. Nem um pouco.
Vice parece muito mais um textão raivoso, lacrador no pior dos sentidos e engraçadinho do Facebook do que um roteiro. Essa é a essência do filme. Bem, ao invés de estudar a personalidade incontestavelmente monstruosa que conduz Dick Cheney, um genocida e psicopata político, como ele parece querer fazer, o roteiro terrível de Vice acaba indo pra um caminho muito mais de “nossa, hein, como o Dick Cheney é um idiota babaca” que é o tipo de bobagem que move toda a estrutural dramatúrgica do filme e faz com que ele dê um tiro no pé nas suas intenções: por não abraçar o retrato da maldade de Cheney e não a aprofundar como parecer quer fazer mas não faz investindo em uma visão idiotizada, caricatural e performática mesmo em como constrói o personagem Vice acaba caindo pra onde ele menos parece quer ir: uma suavização de Dick Cheney como se o feitiço virasse contra feiticeiro já que ao bater nele como bate a narrativa o torne até mais “palatável” e “humano” mesmo sendo um assassino.
Ao mesmo tempo em que constrói essa o cineasta não resisti em gritar seu senso de auto–importância a cada minuto em uma tentativa de autoafirmação constante como um “diretor sério” em uma biografia política “prestigiosa” mais nefasta em seu tom e ao mesmo tempo mais um retrato satírico, político e cômico da elite americana. Nesse sentido assim como vimos em A Grande Aposta (The Big Short, 2015) e estando presente a mesma estilização, mão pesada e o tom frenético que não para… Nunca investindo na composição dos atores, uma montagem rápida, cortes velozes e uma piadinha a todo momento enquanto insere batidas (em alto volume) da seriedade de sua narrativa.
O grande problema de Vice é que McKay consegue destruir completamente a sua ideia central em sua execução e o casamento entre os dois tons acaba sendo algo totalmente torto e bagunçado. Como vimos em A Grande Aposta, nesse filme a mania de McKay em parar a narrativa para inserir piadinhas estruturais dando aquela “piscadinha” para o público continua firme e forte. A cada momento que a narrativa para várias e várias vezes se tornando cansativo de modo terrível pra que mais uma piadinha de estrutura desnecessária e autoindulgente apareça fica claro que o filme fala pra quem o assiste algo como “olha só, como eu sou inteligente hein”. Bem, infelizmente ele não é. Nem um pouco.
Vice parece muito mais um textão raivoso, lacrador no pior dos sentidos e engraçadinho do Facebook do que um roteiro. Essa é a essência do filme. Bem, ao invés de estudar a personalidade incontestavelmente monstruosa que conduz Dick Cheney, um genocida e psicopata político, como ele parece querer fazer, o roteiro terrível de Vice acaba indo pra um caminho muito mais de “nossa, hein, como o Dick Cheney é um idiota babaca” que é o tipo de bobagem que move toda a estrutural dramatúrgica do filme e faz com que ele dê um tiro no pé nas suas intenções: por não abraçar o retrato da maldade de Cheney e não a aprofundar como parecer quer fazer mas não faz investindo em uma visão idiotizada, caricatural e performática mesmo em como constrói o personagem Vice acaba caindo pra onde ele menos parece quer ir: uma suavização de Dick Cheney como se o feitiço virasse contra feiticeiro já que ao bater nele como bate a narrativa o torne até mais “palatável” e “humano” mesmo sendo um assassino.

Cheney é retrato como um
marido e pai amável, mas ao mesmo tempo é um homem tão sedento por poder que
sacrifica os sentimentos da sua própria família para isso. Perfeito. Porém
conhecemos a fundo esse protagonista? É dito que Cheney é inteligente, é dito
que Cheney tem ações monstruosas, muitas coisas são ditas e batidas, mas McKay
olha pra Cheney com um olhar distante, tão caricato e o tratando como um ser
tão ridículo ou como um vilão que esfrega as mãos e diz “HAHAHAHA” que esse efeito
dessas características não são passados. Pelo contrário assim como tudo
especialmente o drama da biografia e a comédia da sátira, esse tom caricatural
soa totalmente falso e em constate com a biografia “sombria” que o diretor
parece querer fazer também.
Então quando Cheney age
não existe efeito. O que fica é algo óbvio e raso. A tese que o filme apresenta
por isso parece não ter um pingo de complexidade e acaba não sendo desenvolvida
em momento nenhum só que o que vemos é mais como uma reportagem do CQC que ao
tentar ridicularizar uma figura política só a torna mais humana e palatável com
esse “engraçadinho” e drasticamente ridículo o que fez que a crítica perca
qualquer substância. A obviedade não para por aí já que passando por um dos
piores usos recentes de um narrador em qualquer obra ficção, que simplesmente
tem que explicar absolutamente tudo que o público vê e assiste de um jeito tão
didático como se a audiência do filme é cega, muda e burra.
O que aparenta é que
McKay está na mesma escola de José Padilha em “como não usar narração em OFF” e
não consegue inserir na história o que ele quer dizer e precisa dizer isso
especificamente com uma narração em off cada ação que surge na tela e lembrar
sempre o espectador da história que ele vê. Você consegue perceber como Adam
McKay está construindo ou formando uma cena, para no momento seguinte ele dizer
especificamente como você deve se sentir quanto a ela usando uma voz dissonante
como agente para que o diretor saiba que o público está pensando e sentindo
exatamente como ele declara que eles estejam. E se você esqueceu alguma coisa,
a narração te explica novamente e de novo e de novo. E ao final quando
conhecemos a identidade do narrador a revelação lembra muito mais um truque
barato de roteiro do que uma reviravolta com sentido palpável na narrativa.
Assim como narrador, nos
seus diálogos de McKay parece querer jogar informações e mais informações da
forma mais didática possível mastigados na boca dos personagens chegando ao
ponto que o filme passeia por uma verborragia irreal já que ninguém e
absolutamente ninguém fala como os personagens falam. Num encontro entre Dick e
George W. Bush temos a negociação entre ambos onde descobrimos TODO O PASSADO
EMPRESARIAL E POLÍTICO de Dick enquanto ele conversa com George, porém o que
ele parece é que ele está dando na verdade um telecurso cinematográfico pro
espectador. Os erros são tão básicos que de fato, parece não existir em Vice o
que mais importa comumente importa pra um roteiro: uma estrutura.

Não existe um foco em
como ele aborda a sua tese central, ele vai pra um lado, depois vai pra outro,
depois coloca algo ali, aí esquece disso, aí coloca outra coisa, joga algo
aqui, e continua e assim por diante. Por exemplo, o filme joga uma trama sobre
e o seu pai extremamente abusivo (Shea Whigham), mas o longa apenas joga isso,
não desenvolve o assunto, não trata do assunto e apenas usa isso como uma
ferramenta dramática pra história, a personagem e o casal central, o que acaba
sendo muito problemático. Indo de uma trama extremamente pesada do nada para
mais sessões a seguir de piadinhas na estrutura constantes que não funcionam ou
o cotidiano completamente vazio de Cheney.
O pior de tudo isso são
as escolhas técnicas atrozes de McKay pra transmitir essa história visualmente
seja no uso amador mesmo que ele faz de quadros parados, a montagem risível e
cansativa do filme em como inserir justaposições (muito presente também na cena
do encontro de Dick e Bush onde McKay parece querer estregar o significado de
sua metáfora com a justaposição), ah e claro as incompreensíveis escolhas que
ele faz em onde colocar flashbacks e flashfowards. Tudo é tão incompetente e de
um jeito tão junto ao mesmo tempo que o filme transmite uma autoconfiança tão
grande mesmo sendo terrível que não deixa de se admirar e se irritar com o ego
dele. Porém essa é uma das combinações mais perigosas que um filme pode ter.
A montagem merece uma
menção desonrosa inclusive. Ela acompanha perfeitamente o filme na sua mania de
auto–indulgencia completamente bagunçada e tão didática quanto o próprio filme
fazendo questão de martelar questões e mais questões que já foram ditas várias
e várias vezes. O filme foge de qualquer coesão na inserção de imagens de
arquivo, de piadas visuais, tudo parece simplesmente jogado na tela e mal
misturado num caldeirão de loucura mesmo dirigido por um adolescente escrevendo
um textão no Face enquanto cheira litros e litros de cocaína, fazendo uma
montagem extremamente desleixada. Talvez o único aspecto técnico que dê algum
mérito pro filme seja a maquiagem que consegue ser surpreendentemente sútil, já
que o Christian Bale faz a maior parte do trabalho por conta própria. Existem
alguns ajustes pra transformar ele, assim como a maquiagem pro envelhecimento,
mas tudo funciona bem e é descente. As únicas coisas duvidosas são as
tentativas de transformar Sam Rockwell em George W. Bush que não pareça nada
naturais, mas também não são tão distrativa assim.
O elenco é um mar de
pequenos acertos e muitas decepções. McKay tem um ótimo elenco em mãos. Cheio
de bons atores. Um elenco que tem o mal inclusive de gritar a todo instante
“OH, VEJAM ISSO, ME INDIQUEM PRA UM OSCAR” em como são dirigidos fazendo
parecer que McKay virou um novo David O. Rusell (pegou até o Christian Bale e a
Amy Adams né): escalando atores pra intepretações afetadas e extremamente
chamativas, dotado por um estilo de montagem “wannabe” Scorsesiano de uma
Thelma Schoonmaker sem conseguir traduzir isso visualmente tornando toda a
estilização frenética algo forçado e falso e um cineasta que parece tão
inseguro pelo próprio estilo que precisa gritar por uma “seriedade prestigiosa”
mirando num estilo acadêmico burocrático falso mas perdido nele mesmo pra ser
alçado ao posto considerado de um diretor sério como se precisasse se provar
como um artista com esse estilo. Talvez dirigindo comédias como O Âncora: A
Lenda de Ron Burgudy (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy), de longe seu
melhor filme, McKay consegue ser mais fluido, sincero e controlado dentro que
ele melhor parece saber fazer do investindo em “filmes pra Oscar pedantes e
autoindulgentes”.
Dito tudo isso, não
existe apenas tragédias nesse desastre. McKay constrói o seu Cheney como um
Ricardo III moderno que só fica na superfície do discurso mesmo em suas quebras
de quarta parede gratuitas, mas Christian Bale de forma apenas eficiente
consegue adicionar alguma camada no personagem que parece não existir no
roteiro. Ele consegue tratar o personagem com alguma sutileza na fala, uma
ferocidade animalesca, uma inteligência transmitida só pelo olhar e até
calcular bem a escuridão que existe em volta do ator.
Porém a interpretação
dele também esbarra em todos os problemas do roteiro com o seu personagem, com
o fato dele não parecer um personagem vivo, dele não ter desenvolvimento, arco,
nada, ser basicamente uma charge vazia com um rascunho de humanidade, a sua
intepretação acaba dividida entre uma percepção criativa do personagem do seu
personagem e uma só uma imitação desesperada do ator querendo emular Cheney sem
deixar o personagem fluir muito bem parecendo mais uma imitação do que uma
atuação em alguns momentos. Isso no geral acaba distraindo os pontos bons do
trabalho de Bale. Dito isso, esse mesmo estando longe e muito longe de ser um
dos melhores trabalhos de Bale, o ator consegue ser com todos os pesares um dos
poucos pontos de salvação do filme. Talvez num roteiro melhor e uma direção
mais focada ele conseguisse dar uma interpretação mais redonda.

Já Amy Adams está bem e
também entra na categoria de estar melhor do que o próprio filme, porém sua
intepretação está muito longe de ser um dos melhores trabalhos dela e também
acaba caindo apenas no bom. Compondo a sua Lady Macbeth da direita americana
Amy Adams lembra muito o seu trabalho extraordinário no fantástico O Mestre
(The Master, Paul Thomas Anderson, 2012) onde ela compõe outra Lady Macbeth, o
problema é que no filme do 2012 Adams realmente tem uma personagem rica e
complexa em mãos aqui quando a observamos percebemos que que a versão desse
filme do uso da esposa quieta e companheira mas com um lado negro e poderoso
soe muito mais simplório e ingênuo em comparação. Vai ser uma pena uma atriz
tão boa como Amy Adams acabar ganhando o Oscar por uma atuação boa, mas
inferior a outras da sua carreira em um papel inferior e que ainda por cima
remete a outros papeis dela de forma muito inferior. Ela está completamente
bem, eficiente, mas a sua personagem não tem desenvolvimento nenhum ou
profundidade nenhuma, é apenas um arquétipo e uma presença de uma boa atriz.
Porém quando comparada com a maior parte do elenco, Amy junto com Bale são os
únicos que se salvam mesmo que não seja muito.

Partindo da visão
ingênua, mas válida do filme que George Bush é apenas um fantoche idiota
controlado por Dick sem nenhuma atitude direta o que é meio verdade e meio não
verdade (já que por mais marionete controlada que seja de bobo inocente sem
papel ativo Bush não tem nada) Sam Rockwell é relegado a poucas cenas. Sendo
mais uma participação especial no filme mesmo. No papel como tudo nesse filme
nesse filme Sam Rockwell parece a escolha perfeita para Bush, o problema é que
as cenas em que Bush aparece são tão ruins, ele não faz absolutamente nada o
filme todo e quando aparece existe a sensação que o Sam Rockwell está atuando
como num teste pro papel de George W. Bush e não sendo o Bush como se ele não
tivesse dentro do personagem o que acaba resultando numa interpretação completamente indiferente. Que não chega a ser ruim, mas também não chega ser
boa. E isso falando de um ator que sempre é uma presença chamativa nos seus
filmes é algo preocupante e uma comprovação dos problemas do filme.
Porém ele consegue se
sair melhor que Steve Carell como Donald Rumfeld que parece estar fazendo o
Brick de O Âncora só que num filme todo sério. Não dá pra entender muito bem se
o filme quer que você ria da escrotidão do seu personagem ou se ela é séria. Se
a intenção é rir, não é engraçado. Se a intenção é ser sério, ele é uma
caricatura completa e horrenda. Não existe uma camada de diferença entre a
persona pública de Rumfeld e a persona pessoal, ele só o tempo inteiro acima do
tom. Só que ele não é alguém agradável de se ver ou se assistir. É só muito
irritante. Perto do seu final Carrell tenta achar alguma nuance no seu
personagem, mas já é tarde demais. Muito tarde. O pobre Jesse Plemons tem que
lidar com uma narração terrível, expositiva e acaba fazendo um trabalho de voz
que não honra o seu talento. O resto do elenco varia do ok pro esquecível. O
normalmente bom Shea Wigham está horrível no pior tipo de interpretação
exagerada possível. É confuso entender porque as suas cenas estão no filme,
porque ele foi pro corte final do filme e porque o seu personagem não leva
absolutamente pra lugar nenhum ou diferença nenhuma.
Uma cena pós–créditos diz
o ponto todo do filme: como ele é autoindulgente ao ponto de se ver como uma
obra superior que vai despertar debates e ódio de uma direita imbecil que ele
ataca e de como a sociedade americana média é medíocre ao conversar sobre
Velozes e Furiosos (num sentimento que flerta como uma superioridade artística
do diretor muito grande). Ignorando o elitismo presente no final, fica claro
que McKay dá ao seu final uma auto–importância que não existe e não se
justifica em momento nenhum. Ele na sua cena pós–créditos trata a direita como
imbecis e a sociedade americana moderna como medíocres, e de fato é um ponto
válido e até correto. Mas será que fazer isso de uma forma tão óbvia, tão rasteira, tão bagunçada, tão rasa,
tão batida, tão didática, tão mal organizada, tão prepotente, tão arrogante,
tão idiota, tão mal construída no seu exagero e caricatura tem algum efeito ou
parece só um textão do Facebook que não leva a lugar nenhum ao invés de um
filme?
Usando referencias
explicitas a Shakespeare de Ricardo III a Macbeth para retratar a podridão da
política americana, um trecho de Macbeth traduz bem o que é Vice:
“… Uma história contada
por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum”.
Isso e coisas muito
piores resumem bem o que é Vice.
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