SHAZAM! (DAVID F. SANDBBERG, 2019)

Um parque de diversões
habita momentos muito importes da trama de Shazam! E curiosamente é com uma
sensação de deslumbramento em um passeio por um parque de diversões que “Shazam!”
é feito: os realizadores conseguem transmitir aquele mesmo sentimento de diversão
total dos personagens centrais com o universo de super-heróis e passar isso
pelo filme. As referencias com “Quero Ser Grande” (“Big”, 1988) da
saudosa Penny Marshall, não param
apenas na premissa central, em parques de diversões ou na cena clássica do
piano. Ambos os filmes compartilham desse espírito juvenil tão fresco em serem
comedias assumidas. Apesar de não vermos mais a história do Tom Hanks que era criança e vira adulto,
aqui vemos a história do garoto Billy
Batson (Asher Angel) que recebe o
poder de se transformar no super-herói adulto Shazam (Zachary Levi) ao
gritar o seu nome. Com ajuda do seu irmão adotivo Freddy (Jack Dylan Grazer)
Billy vai ter que aprender a seu um super-herói enquanto é criança ao mesmo
tempo enfrentando o vilanesco Doutor Silvana (Mark Strong) e descobrindo novos significativos sobre família.
Dirigido por David F. Sandberg (do curta–metragem e
depois longa–metragem Lights Out e “Annabelle 2: A Criação do Mal’),
Shazam! é mais uma tentativa da Warner em se desvincular dos fracassos e
desempenhos medianos de “Homem de Aço” (“Man of Steel”, Zack Snyder, 2013), ( “Batman vs
Superman: A Origem da Justiça” (“Batman v Superman: Dawn of Justice”,
Zack Snyder, 2016), “Esquadrão
Suicida” (“Suicide Squad”, David
Ayer, 2016) e “Liga da Justiça” (“Justice League”, Zack Snyder, 2017), filmes que de um
jeito ou de outro cada um pela sua razão deixaram um gosto de falha ou um gosto
lamentável mesmo. Investindo com sucesso no classicismo inspirador de “Mulher–Maravilha”
(“Wonder Woman”, 2017, Patty
Jenkins), o brega assumido de “Aquaman” (“Aquaman”, James Wan, 2018) e agora na comedia
familiar com Shazam!, a Warner parece ter entendido até onde levar a franquia
da DC pro cinema pra serem bem–sucedidos nesse filão de super–herói.
Dos três longas, Shazam!
talvez seja o mais interessante: os pontos mais altos de “Mulher–Maravilha” são
bem mais altos, mas existe uma consistência no que Shazam! tem no quer que não
existe no terceiro ato de “Mulher–Maravilha” (apesar dos ótimos primeiro e
segundo atos) e nas falhas de “Aquaman” como uma narrativa. Shazam! mesmo com
todas as suas falhas do começo ao fim leva essa aventura absolutamente
engraçada, juvenil e cheia de coração com uma graça, um frescor e um coração
que são surpreendentes. E bem mais sincera do que muitos filmes do gênero.
Existem semelhanças por exemplo com “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (“Spider–Man:
Homecoming”, John Watts, 2017) em
como ele aborda a sua despretensão e senso de diversão, mas enquanto em
“Home-Aranha: De Volta ao Lar” a diversão em tentar ser “um filme do John
Hugues” é algo artificial, programado, genérico e palatável demais, aqui em
Shazam! existe uma sinceridade em como o filme aborda essa diversão
extremamente ingênua e leve super–heroica que abraça todo o ridículo do gênero
de forma total, essa comedia familiar, infanto–juvenil e essa cara de um filme totalmente
clássico da Sessão da Tarde (não é à toa que “Quero Ser Grande” seja uma
referência tão forte mas lembrando muito um formato perfeito de combo de filme
de aventura–comedia de um “Goonies” do Richard Donner). Ele não parece programado. É tudo muito fluido.
Pro bem ou para o mal.
Falando em homem–aranhas,
a forma como o filme brinca e referencia o próprio gênero lembra muito mais ”Homem-Aranha:
No Aranhaverso“ (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018) de Peter Ramsey, Bob Persichetti e Rodney
Rothman do que o humor anárquico, propositalmente apelativo, grosseiro e
cínico no extremado de um “Deadpool” (Tim Miller, 2016). Mesmo sem toda a criatividade, ambição,
inteligência e qualidade de um “Aranhaverso”, a proximidade de tom nessa sua
homenagem constante e autoconsciência existe. Assim como James Wan, sua espécie
de mentor ou algo do gênero, David F. Sandberg se insere como um operário
padrão do estúdio que passeia por gêneros diferentes e consegue com competência
segurar a história que tem em mãos. E diferente de Wan, um diretor comercial já
estabelecido, o fato de ainda estar no começo de carreira deixa Sandeberg mais aberto
para entrar de braços dados com as mais diversas possibilidades oferecidas pelo
estúdio. Toda a direção do filme é muito padrão, mas não por sentido,
conseguindo levar tão bem as partes mas cômicas e as mais emocionais, e sua
experiencia em gêneros diferentes aparece inclusive no próprio filme quando ele
insere em uma cena passada em uma sala empresarial durante um confronto entre
pai e filho uma pegada de terror gritante na construção por entender do gênero,
chegando até a lembrar a excelente cena do ataque dos tentáculos em “Homem-Aranha
2” (Spider–Man 2, Sam Raimi, 2004) mesmo que nem de longe a mesma qualidade.
Inclusive talvez por isso Shazam! seja tão surpreendente porque tem um frescor
nele tão sem amarradas que lembra os filmes de super-herói do começo dos anos
2000. Quase que como uma tão solta. De novo. Pro bem e para o mal.

Os acertos do filme são
muito simples, mas mão definitivos. Pela direção e o roteiro de Henry Gayden
(com argumento de Darren Lemke) temos uma levada do tom que consegue ser tão
engraçado conseguindo altas gargalhadas, mas também vai pro drama mais
emocional quando quer vai muito bem (em toda a construção que faz de família,
da relação de Billy e Freddy e a trama de Billy entre a idealização que faz de
sua mãe biológica enquanto tem a sua família ao seu lado), é tudo muito
simples, mas funcional, ele funciona áurea de graça infanto–juvenil que ele
captura que impede que a comedia do filme caia em um lugar comum, ou em um
elenco muito bem escalado, os atores tem uma química muito forte entre si e com
personagens muito identificáveis.
Zachary Levi é o coração
do filme sendo tão divertido e engraçado de se assistir como um crianção
literalmente falando, e conseguindo ser extremamente carismático como
super-herói. Se ele é o coração, a alma é o talentosíssimo Jack Dylan Grazer,
que já havia provado ser uma das grandes promessas da sua geração em “IT: A
Coisa” (It, Andy Muschietti,
2017), aqui ele consegue sintetizar a essência que anda e fala (e fala muito)
do filme numa balança quase perfeita do tom do filme. É “quase” porque algumas
vezes Freddy fica é um pouco exagerado beirando ao irritante em momentos
pontuais, mas Dylan na maioria parte consegue expor o melhor de Freddy, um
personagem bastante interessante, tanto como o ajudante alivio cômico sendo
engraçado (e ele pode ser muito engraçado) ou como ele já havia provado em It
ao atingir com destreza os seus momentos mais dramáticos. Asher Angel é
levemente ofuscado por Levi e Dylan, mas se sai muito bem nas suas cenas
dramáticas e na sua química com Dylan e com a família, mesmo que o seu jeito
“rebelde” pareça um pouco forçado nas primeiras cenas. Fora a graciosa e
engraçada presença de Faithe Herman como a fofa Darla: Grace Fulton, Ian Chen e
Jovan Armand não chegam a se destacar muito como os outros irmãos adotivos de
Billy e Freddy mas estão todos mais do que bem em seus papeis já que poderiam
facilmente soar irritantes neles e são presenças que contribuem pro tom do
filme de forma coletiva mesmo que o longa inserida alguns deles como
estereótipos meio ultrapassados mas consiga subverter isso com o tempo. Cooper
Andrews e Marta Milans dão um tom absolutamente doce e encantador as figuras
paternais e maternas daquela família num show de simpatia. Djimon Hounsou tem
os momentos menos interessantes do filme em mãos, mas ele consegue entrar bem
na força ridícula proposital do visual do seu personagem e tem um trabalho de
voz bastante impressionante, fazendo com que eu gostaria ver mais dele. Mark
Strong tem um vilão muito mal escrito em mãos e totalmente qualquer coisa, mas
dá o seu melhor em balançar os tons leves de uma comédia de super-herói com um
senso de humor sarcástico pontual, e consegue ter momentos bem ameaçadores, mas
o seu personagem praticamente não existe como tal.
Mesmo que cai em
problemas como toda a trama e desenvolvimento do Doutor Silvana que é algo
totalmente genérico e sem nenhum atrativo, os personagens bullies (Carson MacCormac e Evan Marsh) que são ridiculamente caricatos passando do tom indo
mais constrangedor do que qualquer outra coisa, mesmo acertando no equilíbrio
entre a comedia e os momentos pontuais de drama o filme não consegue
desenvolver todo o drama e magnitude de ser o Shazam ou de toda a sua mitologia
ou essa coisa épica, mesmo que tenham cosias no roteiro que não fazem sentido
(como por exemplo os colegas da escola de Freddy não saberem da ligação do garoto
com o Shazam sendo que eles são vistos em inúmeros momentos o filme todo ou tão
pouca gente perceber da ligação dele com Billy) e mesmo que o CGI seja bem
problemáticos em alguns momentos principalmente nas cenas de voos, os méritos
de Shazam! ressoam de forma muito melhor e muito mais agradável. É bom ver o
navio dos filmes da DC que estava naufragando voltando a vida e de forma tão
divertida.
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