"COLATERAL" ("COLLATERAL", MICHAEL MANN, 2004): O CHOQUE DE VISÕES E IDEOLOGIAS NA METRÓPOLE | CRÍTICA
Crítica escrita por Diego Quaglia.
Capa de Cid Souza.
Capa de Cid Souza.
"Ei, Max, um cara
entra em um metrô aqui em Los Angeles e morre. Acha que alguém vai notar?"
Existe uma cena em
Colateral que praticamente sintetiza o que é o filme: enquanto dirigem por Los
Angeles o taxista Max (Jamie Foxx, ótimo e contendo seus tiques) e o seu passageiro, o assassino de aluguel
Vincent (Tom Cruise, genial na melhor atuação e composição da sua carreira),
cruzam com um coyote que os encara enquanto atravessa a rua. Tudo isso ao som
de "Shadow on the Sun" que praticamente se insere na cena como parte
vital da narrativa dela.

Max e Vincent são uma
dupla típica do cinema de Michael Mann: dois polos que são ao mesmo tempo
opostos e iguais. Vincent assim como o coyote que está caçando e sobrevivendo
em um território estranho a sua natureza é um misantropo completamente desconectado
da humanidade e das pessoas. E ele sabe disso. Ele odeia a vida e não tem
motivos para pensar diferente. E isso o consome por dentro por trás da sua
frieza inabalável.
Vincent é um dos típicos
personagens do cinema de Mann: homens que enxergam na violência e no crime um
ideal de profissionalismo porque não sabem ou não aprenderam a serem de outro
jeito o que acaba os destruindo tanto de um ponto de vista emocional quanto
físico.

Dominado pela sua
psicopatia e descrença na vida Vincent também é alguém com dúvidas,
questionamentos e marcas sobre quem é e o que faz. Mas a violência é a única
coisa que ele consegue entender de forma plena e a única consegue que ele sente
que pode se apegar. Ele é um homem definido pela sua visão de mundo. Onde nada
vale a pena.
Colateral é sobre o
choque de visões e de ideologias durante uma noite como qualquer outra em uma
grande metrópole que invisibiliza as pessoas mesmo no mais gigante caos. Max,
visto como um eterno perdedor e um fracassado, alguém jamais recompensado pela
sua bondade e superficialmente visto como "fraco" diante do
"forte" Vincent com quem mantém uma relação tanto de simpatia quanto
ameaça, se revela alguém que tem que desenvolver uma crença na humanidade
diante do nilismo do seu passageiro/sequestrador.

No final das contas eles
são opostos totais em suas visões de mundo mas numa noite como qualquer outra
se juntam a apreciar a beleza de um coyote e questionar por alguns momentos
seus pontos de vistas tão fortes sobre a vida. A tristeza e incerteza nos olhos
de Foxx e principalmente de Cruise é capturada de forma linda.
É impressionante como o
cinema do Mann está nesse lugar entre um fascínio por gêneros tão clássicos e
populares mas também um tratamento totalmente experimental e de vanguarda pra
eles colocando momentos totalmente reflexivos no meio de um filme de ação e
policial além de aprofundar as camadas psicológicas que cercam aquele mundo.

O trabalho de Michael
Mann com a câmera digital, uma constante no seu cinema daqui pra frente, se
encaixa perfeitamente com o material assim como todo os aspectos técnicos. É
brilhante como o roteiro é tão bem estrutrado e tem um texto tão forte
conseguindo desenvolver tão bem e com tanta profundidade e cuidado seus
conceitos e personagens de uma forma tão pouco aparente te imergindo nas
viagens de Max e Vincent. A trilha sonora, o uso caótico de cores, a construção
de cena, o domínio de cena, tudo é brilhante, como demonstrado na icônica cena
da boate.
Assim como "Fogo
Contra Fogo" ("Heat"), Colateral parte de um conceito muito
simples, mas que é completamente ampliado pela sua execução.
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