"A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM" ("THE GRADUATE", MIKE NICHOLS, 1967): O SOM DO SILÊNCIO

"... Fools, said I, you do not know? Silence like a cancer grows..."

Acho que nunca a eterna repressão, incerteza das mais diversas formas e insegurança da juventude e da existência humana como um todo independente da geração e do tempo foi filmada e traduzida de forma tão revolucionária e libertadora. Mike Nichols com mais tesão que nunca dirigindo um filme cheio de movimentos de câmera e enquadramentos geniais numa conversa impecável com o tom do filme e dos personagens – só a primeira cena, toda a sequência de Ben com Mrs. Robinson no começo, o casamento e emblemático final já são algumas das muitas aulas de direção que temos durante o filme todo –, os roteiristas Calder Willingham e Buck Henry e o montador Sam O'Steen acompanhados da dupla Simon & Garfunkel conseguem trazer à tona de um jeito sempre muito vivo, emocional e pulsante um caldeirão de sentimentos de um futuro de incertezas sempre com um senso de humor cínico e irônico que se mistura com um tristeza profunda.
Clássico "A Primeira Noite de um Homem" retorna aos cinemas ...
O que vemos é o encontro entre a vanguarda e o conservadorismo. Os sentimentos guiados pela contracultura de um tempo vencerão as tradições? As opressões que destroem e prendem mentes e vidas? Ou vamos só repetir elas? Vamos conseguir vencer essas inseguranças e tradições? Essas estruturas emocionais e sociais vão acabar sendo destrutivas mesmo que fujamos? Ben, Mrs. Robinson e Elaine interpretados por Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katherine Ross perfeitos numa eterna dança cênica de olhares, palavras, tiques e posicionamentos com eles mesmo e unidos com um elo quase de sangue com a câmera, as músicas e a montagem numa administração perfeita de Nichols de todos aqueles seres são personagens que emanam o que a humanidade tem de mais profundo e real. Não interessas se você é um jovem rapaz burguês inseguro que questiona o seu status coxinha de vida e é guiado por descobertas de paixão que vão ao fazer tentar escapar da sua existência, uma esposa infeliz e rica que tem um caso com um jovem ou a jovem garota atormentada com o status de "perfeição obrigatória" que vai disputar o amante da mãe. Eles são você no que você tem de mais verdadeiro lá dentro para pior ou melhor.
The ending of "The Graduate" is a big part of this movie's genius ... 
Eles são cheios de defeitos, erros, questões psicológicas e ao mesmo tempo todos tão tristes, perdidos e apaixonantes. Eles causam desconforto e paixão porque apontam como tanto que eu estou escrevendo e você que está me lendo pode ser patético, desprezível e triste e ao mesmo tempo como podemos ser apaixonados, inseguranças enquanto o sexo, a vida, a nossa existência, lutar contra contracorrentes, contra nós mesmos, contra as regras, sobreviver e ao final tentar escapar de determinações fracassadas da vida e de nós mesmo. Talvez tentar não seja o bastante. Talvez o resultando seja alcançado. Talvez não. A incerteza marca não apenas um dos finais mais geniais do cinema, mas também o filme como um todo. "The Gradute" é um filme eterno. Sobre as incertezas de se crescer. Incertezas de escaparmos da condenação da vida e do nosso.

É fascinante, lindo e ao mesmo tempo engraçado que um diretor tão interessado em traduzir as palavras para a tela tenha o grande momento marcado pelo som do silêncio. Te amo, Mike Nichols.

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