A FALSA TRANSGRESSÃO DE "CISNE NEGRO" ("BLACK SWAN", DARREN ARONOFSKY, 2010)


Texto escrito por Diego Quaglia
Capa de Cid Souza.

Eu gosto de pensar no Aronofsky como o diretor “OH COMO EU SOU ARTISTA” e é só um artistinha.

É quase fascinante como o Aronofsky tem essa eterna busca de se auto–afirmar enquanto artista indo pra um caminho até juvenil como se ele fosse um adolescente que quer desesperadamente a sua atenção. Chega a ser brilhante como “Cisne Negro” se apropria de todos os clichês de um dito “cinema autoral” e os executa da maneira mais maneirista possível mas tão próximo deles que ao primeiro momento a enorme superficialidade que o filme tem só ao refletir como ele organiza essa eterna fonte de contradições diferente de “Mãe!”, “A Fonte da Vida” ou “Réquiem Para Um Sonho” que são mais claramente farsas.
Como sempre o filme segue esse estilo do Aronofsky de uma dita transgressão, um dito surrealismo, uma dita esfera melodramática, um dito não convencional e algo que se propõe a ser metafórico pegando referencias obvias de “Repulsa Ao Sexo”, David Lynch e claro “Perfect Blue” (entre a cópia e o original ficamos com o que mesmo?), entre outras coisas, mas a grande questão é que me parece que é tudo apenas “dito” e não feito. Ele age de maneira transgressora, surrealista e melodramática numa necessidade de se aproximar desse cinema e dos status onde esses artistas e obras estão mas na realidade não vai até o fundo em nada e nem acredita no que está fazendo porque ao invés disso constrói essa transgressão, esse teor surreal e melodramático da forma mais controlada possível, arrumadinha, certinha e até conservadora possível num eterno poço de contradições não assumidas. É impressionante como um filme que se apresenta de forma tão aberta e livre acaba sendo tão fechado, quadrado e calculado como se quisesse tocar numa esfera artística e dramática que faz com que o seu estilo autoral seja mais um artificio de fetiche artístico e de estilo do que uma verdadeiro teor autoral que ele tanto busca o que faz com que o filme assim como a maioria da filmografia do Aronofsky no todo fique só no pastiche e numa coisa palatável pedante.
Da mesma maneira é fascinante ver como ele assim como em “Mãe” constrói filmes sobre conflitos femininos e uma dita ode a mulher mas a meu ver acaba apenas reproduzindo um machismo gigante. Temos a cena lésbica que só está lá por fetiche, temos as personagens femininas estereotipadas que são apenas caricaturas de uma mente masculina e construídas como tal desde a protagonista onde o diretor é tão inteligente só que ao contrário que mostra seus conflitos psicólogos resumindo a sua personagem a artifícios como caretas e explorando ela repetitivamente da maneira mais barata possível não fazendo que Nina seja além de um artificio de roteiro da personagem obsessiva reprimida virginal com problemas psicológicos mas que nunca conhecemos além da caricatura – na real não conhecemos ninguém, não conhecemos a mãe perturbada que só a caricatura da “mãe perturbada”, não conhecemos a mentora amargurada que só a caricatura da “mentora amargurada”, não conhecemos a personagem da Mila Kunis que só uma visão machista, maneirista e limitada de rivalidade feminina e todo o desenvolvimento disso que só um cara daria, não conhecemos o diretor escroto que é só a caricatura do “diretor escroto” mesmo e como eu já disse nem a protagonista conhecemos mesmo que a Natalie Portman se esforce com o seu talento mas tem que lidar com o fato que tem um diretor que a dirigi de maneira primária e escreve seus personagens sem nenhuma humanidade, desenvolvimento ou nada “a mais” porque eles não são personagens e sim só caricaturas que recorrem a caras e boas ou olhares dignos de uma comédia aleatória.
Falando de jeito primário de dirigir o Aronofsky continua aqui com essa coisa exagerada no uso maneirista e repetitivo de câmera tremida e na mão acompanhando os personagens que segue ele e faz close–ups toda hora banalizando o uso como se ele fosse um aluno pedante do terceiro semestre de cinema que não está nenhum um pouco interessado em construir cenas e trabalhar com a movimentação dos atores ou com nada além de uma estética do choque pelo choque que acompanha o filme o começo ao fim.

É uma pena que Nina uma personagem com tanto potencial acabe sendo só uma ferramenta da megalomania sem estofo de um autor que segue fazendo um cinema onde a principal diversão é ver sua busca desesperada por afirmação artística.

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