MOSTRA DE SÃO PAULO 2020: "CITY HALL" (FREDERICK, WISEMAN, 2020) | CRÍTICA

Crítica escrita por Diego Quaglia.

Capa de Cid Souza.

Os créditos da minha experiência com “City Hall” acabaram exatamente ás 04:35 dessa quinta–feira, o último dia da Mostra de São Paulo. Pode parecer estranho assistir um filme de 4 horas e 35 minutos numa madrugada, mas é impressionante após terminar o filme como “City Hall” sai ileso ao tempo e consegue transformar o dia–dia da administração da prefeitura de Boston em algo tão prazeroso, agradável mesmo e interessante de ser assistido do começo ao fim onde o tempo passa voando e vai te deixando mais e mais inserido naquele universo.

Talvez porque o que eu acho que Frederick Wiseman queira é muito mais do que tentar responder "o que acontece nos bastidores?", e mais perseguir sobre como os sentimentos desses bastidores se parecem. Como de fato existem coisas muito vivas e pulsantes dentro de um ambiente aparentemente frio e opressivo. Não vemos praticamente nenhum grande problema ou impasse mais épico enfrentado pela prefeitura, mas é nessa certa banalidade do dia–dia administrativo e dos trabalhos que envolvem ele vão compondo as montanhas das engrenagens de um sistema que Wiseman enxerga com muita força. Vamos assistindo a tarefas administrativas, jogos, encontros e mais encontros em salas fechadas, discussões das mais diversas pautas do cotidiano de uma cidade, passamos por asilos, casamentos, museus, festejos e por aí vai, essas “pequenas coisas” vão aos poucos compondo mais e mais engrenagens de todo um sistema. De uma cidade. De uma democracia.

E aí que o filme se supera porque consegue encontrar uma espécie de calor humano genuíno naquelas pessoas e em tudo que envolve esse sistema que nunca em nossa cabeça na primeira vez que pensamos em uma prefeitura. O prefeito, os funcionários da prefeitura, a polícia local, os bombeiros, os moradores da cidade, os vereadores, algumas caras que vem e vem ficando constante no filme, não são o foco ou protagonistas, ninguém ocupa esse protagonismo, que me parece ser muito mais dos laços que todos possuem para formar uma grande engrenagem.

Engrenagem essa que de fato pode servir a humanidade ou desejar servir já que o tema da diversidade e justiça social é pontuado durante o filme inteiro indo e voltando para formar uma espécie de atestado da necessidade de políticas sociais tão ameaçadas. E para chegar a isso Wiseman é de um domínio narrativo que me chocou. Tudo é filmado num nível de proximidade muito grande. As tomadas nos prédios, nas pessoas, a cidades, as portas, os carros passando, em retratos, etc, fui levado para dentro daquela Boston onde os feitos e tarefas mais “comuns” são filmados com um prazer de você acompanhar uma trama onde é hipnotizado a cada instante. E aqui o que acontece não é diferente.

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